quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Rehab

Sou fissurado em coca-cola. Desde muito pequeno, sorvia bons goles da negra e açucarada mistura gaseificada de noz de cola. Hoje, milênios separam minha tenra infância, quando brindava à saúde de Ramsés, da minha jovem idade adulta (ou minha adulta juventude), e meu consumo é bem mais moderado: quiçá uns três ou quatro litros por semana. Mas já fui um beberrão, dos que bebem dois decímetros cúbicos por expediente de trabalho mais dois em casa (e vale comentar que, quando eu fazia isso, eu trabalhava seis horas diárias).

Decidi-me: não serei mais apegado ao vício da coca-cola. Suei, sofri, chorei, acordei com gosto de coca-cola na boca. Parece piada, síndrome de abstinência? Parece, eu sei, mas por mais incrível que possa parecer, não é mentira.

Não consegui suportar a idéia da escravidão a uma coisa, uma circunstância, a um líquido qualquer. Parei. Passei meses sem beber coca-cola. Daí, em uma reunião-almoço (a conjunção perfeita entre comida fria e conversa morna), tomei uma ou duas latas da concorrência, a pepsi cola. Não era o pirulito, mas serviu. Amo refrigerante.

Voltei a consumir coca-cola.Se fui viciado no xarope preto, também o fui em não tomá-lo.

Moral da história: crianças, nem ao céu, nem a terra; nenhum dos dois lados tem grandes virtudes.

Ando com a saúde meio abalada: gastroenterite, cansaço crônico, cefaléia, cervicalgia e uma boa duma dor no pescoço, que me atrapalha na deglutição e até para olhar para o lado. Se tomo todos os remédios para todas as dores, sou um hipocondríaco; se não tomo, um masoquista. O que me resta?

Daí, fico a pensar na nossa sociedade, que não quer sofrer nada, nem a crise. Galera, vâmo manerá nos gasto, gritam os economistas; meu povo, comprem uma geladêra nova pra nêga véia, diz Sua Excelência o Presidente da República. De que lado eu fico?

Às vezes, acho que certa é a Amy Winehouse: drogadita, esculhambada e pouco se importa com tudo. Ela mesma canta que não quer se “reabilitar”. Que é a reabilitação? Ser “normal” é seguir o padrão da sociedade, é ser “viciado” no padrão dos outros? Feliz é ela, que escolheu o seu próprio vício. Ou não?

“Liberdade é escravidão”, diz nas paredes da Oceania que Orwell deslindou. “Não somos livres de sermos livres”, disse Sartre. Será que há, para tudo, a justa medida que Aristóteles escreveu a Nicômaco?

Não sei. Meu trem está chegando à estação. Outra hora eu penso nisso.

5 comentários:

Joanna disse...

Sou a favor de ser feliz à sua maneira, sem que se faça mal aos outros. Com vícios, sem vícios, a opção é sua, pq as consequências tb serão.
Tenho cá meus vícios e gosto deles.
Sou feliz assim, doida, cocólatra (de coca-cola, não de cocô) e fumeta.
hehehe
Beijos

Joanna disse...

Enquanto vc estava lá, eu estava aqui! hehe

Lúcia disse...

Samiiiiiiiiiiii!!!!!
Vem prá Curitibaaaaaaaaa!!!!
Será o must!
Amei o texto. Também já fui cocólatra. Depois guaranólatra. Agora só bebo socialmente, hahaha, ficou engraçado mas é verdade. Refri não entra mais em casa. E liberdade é poder fazer o que acho melhor. Poder fazer o que quero.
Bjs

Joanna disse...

Olha eu aqui outra vez!

ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh que nem te respondi sobre o encontro!

Agora será cobrado por duas pessoas a cumprir a promessa de vir pra cá!

"Tâmo esperâno"

SGi/Sonia disse...

Depois de Kool and the Gang, que dancei horrores com as mãos para cima e pulando feito minhoca no asfalto quente, mas que tenho que confessar o clip é tosco demais da conta, perde só pra HELLO do Lionel Ritche(que já teve filha na rehab...).
Coca-cola, não chêro, não fumo e não bebo, mas coca-cola já injetei na veia. Fui durante uma semana, lá na época da construção das pirâmedes, viciada no liquido preto.
Uma semana SamiBoy, só uma semana, mas me faz uma mal danado, contados os 7 dias tive uma gastrite feroz, uma enxaqueca horrorosa e abandonei o vicio, porque na minha cabeça, vicio tem que ser bom pra ser mantido e não pode custar caro.
Hoje como a Lúcia só tomo em datas festivas, gosto de um bom suco, mas quando a preguiça de espremer uma fruta toma conta a frase que se ouve aqui é: "Pega a coca na geladeira!"

Ei eu também sou de Curitibaaaaaa

Beijins com felicidades:*