sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Alguém entende o por quê?


Alguém pode me explicar por que aqui, em boa parcela dos shoppings da região metropolitana de Porto Alegre, os banhos masculinos são mais difíceis de acessar? Subir escada, caminhar mais um pouco, passar por corredores, por que para nós, varões? Por que não para as mulheres, justamente elas, que vão em grupo e metade não usa efetivamente o sanitário?

Senhoras e senhoritas, se vocês acham que dá para dar um nozinho no piu-piu para “se segurar”, estão muito enganadas. Assim, registro minha inconformidade: isonomia na acessibilidade aos banheiros públicos! Machos do Brasil, uni-vos!

Saúde, força e união!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Dominantes, às ordens!


Em meu trabalho, além de lidar com um público seleto (atendimento de políticos e outras pessoas de importância), converso com muitas simples; além disso, comando os eventos da minha instituição, realizando as formalidades protocolares, apresentando e instruindo quais os procedimentos. Assim, sou mestre-de-cerimônias de formaturas, palestras, apresentações e todo o tipo de H necessário a bem representar a instituição.

Lidar com todas as pessoas e transitar bem acaba sendo uma virtude minha; admito, não tenho a melhor das penetrações, mas faço empenho para isso, e acabo vendo a resposta: meus superiores e "os tubarões" que recebo demonstram certa admiração pela minha atividade, e os demais que me assistem, em alguns casos, me elevam à condição de astro pop.

É estranho isso. Acabo visto, e tenho consciência disso, como um alienígena, um herói ou uma figura distante. Sou bem igual a todos os outros, com uma habilidade: falar em público. Quanto ao mais, sou extremamente normal, talvez até mais normal que os demais.

Mas, enfim, enquanto fico com o estigma de super-qualquer-coisa, vou-me dar risada da minha condição sobrenatural: dominantes, às ordens!

Saúde, força e união!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Casos de lanterninha

(por mais difícil que pareça, este relato é real e aconteceu comigo em 21/02/2008)

+ * + * +

Fui ao cinema. Mais uma vez, como sempre faço, empurro minha pesada carcaça em direção à fila da bilheteria, guarnecido de uma mochila com dois laptops, um cartão magnético e uma barriga semelhante à de uma criança com verminose.

Era uma quinta-feira, ainda do período de férias estudantis. Para completar o chamariz aos discentes (estudante que preze os carcarás minguados só vai no meio da semana e com carteirinha pra filar desconto), havia uma promoção que me causa algum embaraço: beijar na frente da bilheteria faz com que o casal pague apenas uma entrada. Por conseguinte, junte preço baixo, desconto, “pegação” e meio de semana: eis uma fila repleta de acne, ferormônios e cochichos ao pé da orelha.

Estava só. Filme? Meu nome não é Johnny. Enfim, depois de uma boa fila, cheguei diante de uma moça que, diante da tarefa de procuradora de Eros e Dioniso, nem dava mais bola pra nada: mesmo desacompanhado, ela me perguntou “promoção do beijo?”; não perdi a oportunidade: “você quer?”. Acho que ela não gosta de rapazes de aparelho: apenas ouvi “nove reais”. Droga de vida. Nem queria desconto, mesmo...!

Enquanto estava aguardando minha vez ao guichê, dei uma olhadinha pra trás. Fiquei vendo os casais, as famílias, os jovens namorados, os pares homossexuais, as meninas desacompanhadas, e eu ali, só. Fazer o quê? Posso ser feio, chato e pobre, mas não sou daqueles que fica catando garota pra ganhar desconto no cinema. Mesmo assim, contemplei com perplexidade como é lindo o amor... meninas com cara de abestalhadas olhando para seus namorados, que olhavam... a bunda das namoradas dos outros! Não perdoam nem a época de Quaresma pra ficar cobiçando a mulher do próximo! Se bem que a fila estava tão grande que, se eu cobiçasse a moça lá da ponta logo que eu cheguei, nem daria pra taxar como “pecado”...!

Após minha análise criteriosa de todos os cidadãos dispostos alinhadamente (ou quase isso), comecei a prestar atenção nas interjeições dos casais. Ouvi desde “não me atrapalha com essa tua mão boba!” até “será que aquele guri de mochila é viado (sic)? Hoje é ‘dia do beijo’ e ele está sozinho!”. Não resisti e dirigi o olhar: um rapaz pseudoariano, com uma moça muito bonita, de pernas compridas (daquelas que não dá graça de brincar de amarelinha) e trajes mínimos. Não dei atenção: procrastinei a vingança e tergiversei. “Tua hora chega, bobalhão, palhaço”, e mentalizei meu pai dando um dos seus tradicionais carinhos na nuca daquele cidadão (registre-se: nas brincadeiras do véio, afundar moleira é “cheirinho”!).

Fui à fila da bombonière pegar pipoca. Embora não deva, como pipoca, sem deixar de constar um cuidado extremo aos brackets. Pois então, pedi o “combo grande” (composto de um saco de uns dois palmos de milho estourado e um copo com 900ml de refrigerante). A morena clara do nazista comentou, em um intelectual rompante de jumentice: “ele tem que estar com alguém; olhe o tamanho da pipoca dele!”. Comecei a ouvir a torcida do Flamengo gritar no fundo das minhas entranhas “Ó lambisgóia, pode esperar / a tua hora vai chegar...”, enquanto dava licença a mais um casalzinho com cara de abestado (principalmente o cara, que não notava a menina dele rebolando, para desespero dos outros rapazes à nossa retaguarda).

Abrindo um parêntese, comento uma peculiaridade da minha personalidade: sou um rapaz pacato e, embora seja sisudo, não sou mau. Não desejo o mal a ninguém, não odeio ninguém e nem quero ver nenhum inimigo morto, pois não fiz nenhum nessa minha curta vida. Contudo, naquela noite, meus instintos mais primitivos me fizeram invocar as energias mais vis e sórdidas contra aqueles cidadãos. “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”, dizia minha caridosa alma cristã; mas também sou “um Aguiar”, diria meu pai, e orava, “Pai, não permita que minha mão se machuque se eu der na cara desse chinelão!”. A vingança pertence a Deus. Contudo, não sabia que ele havia passado um mandato para um utensílio realizar justiça. Seja louvado!

“Se aproveitam, de minha nobreza”, como diz o honorável Polegar Vermelho, e preciso procurar um lugar na sala de projeção. Sala íngreme, dois laptops nas costas, pipoca, refrigerante, casaizinhos apaixonados aguardando a luz apagar para começar a pouca-vergonha (que, acreditem, existe...!). Não fiquei num lugar muito privilegiado, mas “numa escala de ‘zero’ a ‘dez’, em que ‘zero’ significa ‘lugar pouquíssimo privilegiado’ e ‘dez’ significa ‘lugar muitíssimo privilegiado’”, minha nota para aquele ponto era 7,49. Instalei-me, eu, minha barriga de criança com verminose e meus apetrechos, a saber, uma mochila com dois laptops, um saco imenso com pipocas e quase um litro de refrigerante, numa poltrona próxima às laterais do local. Distava umas quatro ou cinco cadeiras da parede, outras tanto de um casal com um rapaz que conversava em iídiche (e comecei a temer pelo menino; judeus deveriam resguardar suas origens ao menos por medo desses pseudoarianos, como esse que visualizara há pouco. Entre risos desbragados e ao som da Ciranda da Bailarina, entra o representante hitlerista e a representante asinina com restrições mentais.

Deus sabe: nada fiz de propósito.

Como sou um rapaz com uma sorte “mais grande que braço de cobra”, fui escolhido pelo “alemão” e pela “gostosa” para ter os joelhos puídos pelo pouco espaço por onde eles passarariam. Antes, eu já havia posto a mochila (aquela, a dois laptops) à esquerda. Momentos tensos começam a ocorrer: o judeuzinho notou quem se dirigia em sua direção e empalideceu. Eu agüentei firme, deixando a mula e a piranha passarem. De repente, minha mochila foi usada pelo Grande Arquiteto do Universo como instrumento da justiça: a roda do destino gira de modo imprevisto, de modo que, naquele momento, vi-a percorrer seu movimento circular uniformemente variado, em desaceleração, parando em desfavor do deutsch: o rapaz deu um tropeção na mochila (sabe a que me refiro?), prostrando-se em terra o golias da SS, com pipoca, refrigerante, saco de balas e alguns confeitos de chocolate, fora que a queda foi tão fragorosa, tão grotesca, tão estrogonófica, tão mediogáivel, tão batráquia, tão inoxidável (quero dizer brilhante), que acabou batendo com os calcanhares na rapariga, que acabou tombando às fileiras da frente, com o rosto voltado à bunda de um gordo profissional, daqueles que trabalham de porteiro em loja de $1,99!

O rapaz, sem um dente, sem pipoca, sem bala, sem chocolate, sem refrigerante e com a acompanhante com o rosto introduzido na buzanfa de um respeitável senhor de volumosas qualidades abdominais. Envergonhado com tudo isso, o rato germânico se sentiu obrigado a ir embora. A moça, coitada, estava sem calcinha, e a saia plissada foi pra galera, dando uma aula de ginecologia para umas 150 pessoas, com direito a piercing genital e depilação completa. Um exemplar de colecionador!

Nessas e outras horas, eu digo: “vai rindo, bobalhão, palhaço”. Essas são as palavras mágicas que meu pai sempre me disse antes do cascudo. Hoje, eu apenas as digo: deixo que o destino conspire em meu favor.

Aqui fica meu recado: nunca julgue a aparência; talvez, o fim do seu casamento seja o cabeleireiro bichona que a-do-ra passar a mão no rostinho da sua senhora. E cuidado: Deus não mata, mas que dá uns cagaços nos vacilões, ninguém duvida!

Saúde, força e união!

PS.: por remorso, estou pensando em fazer uma vaquinha e dar um dente pro loirinho Alguém me ajuda?

PS.²: se alguém der uma calcinha pra menina, vai levar as minhas palavras de maldição; você se arrisca?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A carreira profissional na roda dos expostos

Acho que todos nós conhecemos exemplos na vida econômico-profissional de pessoas que começaram no nada e amealharam grande riqueza. Isso me faz lembrar do Visconde de Mauá e Abraham Lincoln. Se não foram ricos, não se conformaram com sua condição social e avançaram. Eles não desistiram nunca, e se tornaram célebres pelo que fizeram.

Embora cada um haja seguido uma área e tocado sua vida de uma forma, noto uma coisa: todos tocaram os estudos adiante e buscaram o mercado de trabalho. Seja como for, tiveram uma oportunidade e seguiram adiante. Isso os colocou em patamares de merecido respeito, tornando-se alvo de todos que queriam (e ainda querem) a excelência.

É interessante notar o tino comercial de Irineu e a dedicação de Lincoln. Contudo, pouco adiantaria se apenas fossem preparados, sem aplicarem fora da socrática caverna tudo o que eles aprenderam.

E aqui toco no fulcro da questão: quantos dos nossos jovens têm oportunidade de começar uma carreira de trabalho? Isso não é uma justificativa para o crime, mas não se aceita gari sem Ensino Fundamental! Há que se mostrar diploma para varrer calçada! É necessário?

Acho que estamos impregnando uma cultura de almofadinhas; enquanto isso, o mercado segue de mal a pior. Nem office-boy se contrata hoje em dia. Agora, é boy terceirizado, que não tem nenhum vínculo com empresa, não conhece patrão e nem deve satisfação a ninguém.

O mercado de trabalho trata seus elementos de maneira tão descartável quanto os copos de plástico do final de festa que fazemos nos escritórios (porque, se for em casa, é capaz da mãe juntar, lavar e usar de novo).

Posso ser muito romântico, mas me é marcada a impressão de que, outrora, as pessoas eram chefiadas por pessoas; muitos, bem novos e com necessidades financeiras, procuravam serviço e, às vezes, eram confiados pelos pais para ficarem sob os auspícios de senhores austeros, que davam uma formação de caráter e ainda permitia progredir na empresa, conforme o mérito. Se fossem endinheirados, os jovenzinhos talvez se dedicassem mais às artes e letras, mas sabiam que precisariam fazer alguma coisa: nem a família real passa o dia à base de aluá e pão de milho!

Olho por mim: com um calendário escolar regular, formar-me-ia no Ensino Médio com 16 anos! De que eu poderia trabalhar? De entregador de lanches? Nada contra, mas todos sabem que se pode lutar por outras áreas que permitam crescer; contudo, a formação de um adolescente, em geral é toda idêntica, não aponta virtudes nem objetivos.

Quem tem dinheiro, aprende, e isso é inegável. Quem pode estagiar pelo prazer de peticionar ou para agregar conhecimentos, pode aplaudir aos céus pela formação que se vai consolidando. E quem não pode?

Nessas horas, penso nos colegas que, para manter a faculdade, fazem qualquer coisa para conseguir seus carcarás minguados: de garota de programa a auxiliar de serviços gerais, todas as carreiras se encontram na Academia visando sustentar os futuros operadores do Direito. É triste, mas se nota o contraste dos colegas de rosto bem escanhoado, metidos nos ternos de corte impecável, e aqueles que usam simulacros de calças e camisas, que chegam a ser rotas, tudo para, fazendo empenho de mostrar boa apresentação, honrar a nobre carreira jurídica.

O mundo dos negócios é voraz, e traga a todos sem nenhum pingo de bondade. Contudo, houve o tempo dos senhores bonachões e das matronas – proprietários e/ou gerentes de armarinhos, perfumarias, panifícios, escritórios e até bancos – que oportunizavam ao jovem a inserção nesse mundo de ai-meu-Deus. Hoje, você é apenas uma nota. “Ah, não estudou isso ainda? Desculpe-me, não me serve.” E a roda dos expostos gira, e a Mãe Gentil, que se fia por tutora desses profissionais ainda não inseridos, não consegue mais sustentar esse sistema que não quer a continuidade da sociedade, mas o continuísmo dos maus paradigmas de uma sociedade que não se dispõe a crescer de maneira democrática (não se leia “demagógica” ou “populista”).

“... aquele que for incapaz de viver em sociedade, ou que não tiver necessidade disso por ser auto-suficiente, será uma besta ou um deus, não uma parte do Estado. [...] ... se o homem não for excelente, será o mais perverso e selvagem dos animais, o mais repleto de luxúria e de gula. Mas a justiça é o vínculo dos homens, nos Estados; porque a administração da justiça, que é a determinação daquilo que é justo, é o princípio da ordem numa sociedade política”. (Platão, A Política)

Saúde, força e união!

Una furtiva lacrima



Una furtiva lacrima
negli occhi suoi spuntò.
Quelle festose giovani
invidiar sembrò.

Che più cercando io vo?
Che più cercando io vo?
M'ama, mi sta amando, vedo.
Io vedo.

Un solo istante i palpiti
del suo bel cor sentir.
I miei sospir confondere
per poco ai suoi sospir.

I palpiti,
i paliti sentir.
Confondere i miei
coi suoi sospir

Cielo, si può morir.
Di più non chiedo, non chiedo.
Oh cielo, si può, si può morir.
Di più non chiedo, non chiedo.

Si può morir,
si puo morir d'amor.


(da ópera L'Elisir d'amore - Gaetano M. Donizetti, interpretada por Luciano Pavarotti)

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Fome

Por fome, movemos nossos estímulos mais primitivos (lembro-me do Roberto Jefferson com essa expressão). Quando almejamos muito algo, dizemos que “temos fome” da tal coisa. É ou não é?

Estava com fome. Como o horário está todo alterado com a volta do horário “antigo”, a gastura estava me corroendo as tripas. Vovó, com sua providencial dedicação culinária, aprontou-me um prato de macarrão instantâneo, com um toque de queijo parmesão ralado! Há coisa melhor que um pouco de paparico?

Como é bom ser cuidado! Acho que a fome serve para isso: para cuidarmos de nós. Quando alguém lembra de nós, melhor ainda. Talvez isso seja a fome: uma lembrança de si para todos aqueles que se interessam por essa pessoa chamada “eu”.

Vou pensar nisso enquanto devoro um prato de miojo. Licença...!

Saúde, força e união!

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Não lembro

Se falta de memória fosse motivo de orgulho, meus pais seriam inchados por minha causa. Não fumo maconha (e nunca fumei), mas minha memória recente é capaz de armazenar uns 5 caracteres, mais ou menos (o que deixa claro o porquê de eu não saber nenhum número de telefone “de cabeça”).

Sou capaz de dar pormenores de circunstâncias muito distantes (lembro-me da roupa que minha professora usava em 1992 quando escorregou e caiu sentada, de sermões inteiros que ouvi em datas específicas, dos nomes completos de dúzias de colegas e tantas outras peculiaridades). Algumas coisas se introjetam em mim de tal maneira que posso lembrá-las por períodos a fio. Isso causa uma boa impressão: dizer a uma menina que você se lembra de peculiaridades do primeiro encontro causa um frenesi daqueles!

Contudo, não sou bom em memória recente. Isso é terrível. Sabe por quê? Porque passei o dia dizendo “vou postar isso no blog”. Não sei mais o que iria postar. Tudo bem. Faz tempo que não posto algo decente.

Saúde, memória e união!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Gordo

Depois que voltei à Mui Leal e Valerosa Cidade de Porto Alegre, engordei 20kg. Sim, assim como para ser negro se deve considerar negro, sou gordo porque me considero assim.

Depois que a protuberância abdominal se mostrou inconveniente na hora de subir ladeiras, de tocar violão (sim, sou barrigudo) e de parecer que tenho mais seios que uma top model (talvez um manequim 36 ou 38, pois ainda sou amador na arte do sobrepeso), decidi emagrecer. Contudo, como sou mais perseverante que uma criança no intento de tomar choque (leva um, chora e nunca mais olha a tomada), vou sobrevivendo à minha relativa condição como um fortinho.

Anteontem, vivi algo inóspito: ao pegar um táxi-lotação (uma coisa que só há em Porto Alegre: uma “perua” legalizada, um micro-ônibus para transporte seletivo), sentei-me (pois nesse veículo não se pode permanecer em pé) ao lado de um cidadão gordo. De verdade.

Eu juro que não sentaria ali se houvesse outro lugar. O pobre coitado precisou se esticar, mexer-se, virar-se, para que eu pudesse minimamente caber ao seu lado.

Nessa hora, não me senti mais gordo.

Nunca passei pelo constrangimento de não passar por uma porta ou travar em uma roleta. Nunca precisei de cadeiras com reforço. Nunca precisei comprar roupa especial. A sudorese e o cansaço talvez sejam fruto da minha fraqueza, não da adiposidade.

Senti pena do homem. Que Deus o ajude. Enquanto isso, vou criar vergonha na cara e fazer alguma coisa.

Abraços! Saúde, força e união!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Ioseph

Et quid nunc, Ioseph?
Festum est finitum,
lumen est exstinctum,
cuncta evanuit turba,
nox est frigefacta,
et quid nunc, Ioseph?
et quid nunc, et tu?
Qui nomen non habes,
qui alios derides,
qui versus componis,
qui amas, reclamas?
et quid nunc, Ioseph?

Femina non tibi
verbum neque tibi
nec blanditiae tibi,
bibere non vales,
fumum nec spirare,
nec sputare quidem,
nox est frigefacta,
dies tuus non venit,
currus tuus non venit,
risus tuus non venit,
utopia non venit,
omnia et sunt finita,
omnia et vanuere
omnia et mucuere,
et quid nunc, Ioseph?

Et quid nunc, Ioseph?
tuus sermo dulcis,
tuae febris hora,
tua gula et ieiunium,
tua bibliotheca,
tua auri fodina,
tua vestis vitrea,
tua contradictio,
tuum odium — et quid nunc?

Clavi manu arrepta,
vis ut pateat ianua,
non est tamen ianua;
vis in mari mori
mare est tamen siccum;
vis in Minas ire,
Minas non est amplius.
Ioseph, et quid nunc?

Tu si vocitares,
tu si gemeres,
tu si personares
Vindobonae melos,
tu si obdormires,
tu si fessus fieres,
tu si mortem obires...
Sed non moreris,
tu es durus, Ioseph!

Solus in caligine
velut bellua in silva,
sine theogonia,
nudo sine muro
tete cui fulcires,
sine equo nigro
qui quam citior fugiat,
tu incedis, Ioseph!
Ioseph, quonam gentium?

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Monólogo

Época de férias. Estava cansado do trabalho, mas estou cansado do sossego. Droga de vida.

Ando cansado da vida. Sei lá. Queria fazer muito mais por quem muito precisa (e merece). Que Deus me ajude.

Para não deixar o blog às cyber-traças, segue um lindo poema do Chico Anísio; o último vocábulo é vulgar, mas é a expressão de todo aquele que não agüenta mais ver nosso país como está.

Ósculos e amplexos a todos. Saúde, força e união!

+ * + * +

Monólogo
(Chico Anísio)

Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutaias, majestoso manicômio. Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio -- maior maldade mundial.

Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna. Monta matumbo malhado munindo machado, martelo, mochila murcha, margeia mata maior. Manhãzinha, move moinho, moendo macaxeira, mandioca. Meio-dia mata marreco, manjar melhorzinho. Meia-noite, mima mulherzinha mimosa, Maria morena, momento maravilha, motivação mútua, mas monocórdia mesmice. Muitos migram, macilentos, maltrapilhos. Morarão modestamente, malocas metropolitanas, mocambos miseráveis. Menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo. Metade morre.

Mundo maligno, misturando mendigos maltratados, menores metralhados, militares mandões, meretrizes, marafonas, mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente, modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas.

Mundo medíocre. Milionários montam mansões magníficas: melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, mercedes, motorista, mãos... Magnatas manobrando milhões, mas maioria morre minguando. Moradia meiágua, menos, marquise.

Mundo maluco, máquina mortífera. Mundo moderno, melhore. Melhore mais, melhore muito, melhore mesmo. Merecemos. Maldito mundo moderno, mundinho merda.