terça-feira, 30 de setembro de 2008

Shanah Tovah!

Mazel tov! Chegamos ao início de mais um ano-novo judaico. No calendário cristão, estamos a acabar o nono mês do ano. O tempo voa!

Para comemorar a efeméride, deixarei ao deleite do mundo três canções judaicas: Hava Nagila, que é, quiçá, a mais emblemática das músicas dançantes, Yerushalaim Shel Zahav, o segundo hino da nação de Israel, e Be Arvot Anguev, que é uma das melodias mais agradáveis que eu conheço.







Shalom alechem!

You

Com a chuva caindo na capital dos gaúchos, associada a uma falta de sono pra lá de resistente, nada melhor que um pouco de Carpenters, ainda mais cantando You, uma música que, embora tenha toda a cara de música de namorados, é um gospel de Ralph Carmichael (um dos meus compositores preferidos).

Pra quem curte, boa música!



You are the one who makes me happy
When everything else turns to gray
Yours is the voice that wakes me mornings
And sends me out into the day

You are the crowd that sits quiet list'ning to me
With all the mad sense I make
You are one of the few things worth remembering
And since it's all true, how can anyone mean more to me than you.

Sorry if sometimes I look past you
There's no one beyond your eyes
Inside my head the wheels are turning
Hey sometimes I'm not so wise

You are my heart and my soul, my inspiration
Just like the old love song goes
You are one of the few things worth remembering
And since it's all true, how could anyone mean more to me than you

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Defendendo os indefesos

Embora falante, gosto de reduzir o que sinto em poucas palavras. Hoje, esse resumo é um pouco longo, meio misturado, mas pleno: sinto-me “responsável”.

Tive severa crise de lombalgia na sexta-feira, o que me inviabilizou o descanso e me forçou a fazer pequena doação ao quiropraxista; com um pouco de sorte, consegui uma consulta de emergência ainda pela parte da manhã, o que deu uma bela ajeitada, mas não foi plena para me aliviar os incômodos.

Procurei livros para minha prima, conversei, pensei, refleti. Empreguei um tempo de qualidade para mim mesmo, o que me foi bom. Não estava muito contente com o mal-estar, mas me sentia plácido, naquela imperturbabilidade que Epicuro tanto pregou. Também recebi uma encomenda: uma apresentação institucional do meu trabalho, para que fosse exposta em evento fora do Estado; tive de procrastiná-la, pois não conseguia permanecer muito tempo sentado, nem em pé, nem deitado. Inquieto, dolorido e impaciente: eis Samuel.

Dormi um pouco mais no fim de semana. Estudei bastante, embora ainda me considere um incipiente (e insipiente) na persecução penal (mesmo lendo e relendo o Código de Processo Penal, pensando em autos de prisão em flagrante e sabendo que infrações de menor potencial ofensivo apresentam pena mínima menor que um ano e pena máxima menor que dois), e não deixei de ler as Sagradas Letras, auxiliado pelo sapientíssimo Pr. Lima.

Fui a Sapucaia: navegar é preciso, e o gigante do dever rugia ao meu ouvido. Peguei imagens e dados para fazer os slides e voltei para casa. Contudo, recebi uma ligação que me inquietou: uma conhecida, amiga de amiga, disse estar grávida e queria abortar. Meu Deus, um crime doloso contra a vida! Persecução penal, detenção, crime de médio potencial ofensivo, um ser indefeso galgando o cadafalso pela sua própria protetora-mor. Isso me deixou muito mal; não poderia deixar de fazer algo: fui conversar com a moça.

Embora cansado, tendo ido dormir às 6h de domingo, ido à Igreja pela manhã e cheio de coisas, amei uma criança que nem minha é. Não poderia deixar de lado um ser indefeso cair vaso sanitário abaixo por causa de um chá abortivo qualquer, vendo uma mãe nervosa e um pai aturdido, que optam mal porque optam por seus próprios umbigos.

Quero ser advogado. Quero lecionar, ganhar dinheiro, ser feliz, ter família, estudar, coisa e tal, mas um dos meus anseios mais intensos é estar ao lado de quem necessita de amparo. Minha curta vida me ensinou que não há mocinhos nem bandidos, mas apenas humanos, demasiadamente humanos. Pedi à provável genitora que não optasse por outra pessoa, assim como possivelmente fizeram com ela.

Queremos dormir em paz, mas não nos damos sossego. Pouco adianta buscar cobertores para se aquentar se não nos cobrirmos com ele. Podemos soltar pombos, mas a paz só se manifesta em um vôo livre e desimpedido. Só há vida

Não sei o que acontecerá hoje, segunda-feira. Sei, entretanto, que fiz minha parte. O Justo Juiz fará o que lhe aprouver; apenas deixei que a inaudível voz do zigoto falasse mais alto que os gritos do egocentrismo. Agi certo? Espero que sim.

Que Deus me ajude, e ajude essa provável mãe a achar seu norte. A balança pode pender aos mais fortes, mas é Ele que dá o equilíbrio. A Ele cabe o futuro, mas a mim cabe o presente. Que Ele me guarde até o dia em que eu O encontre face a face, mas que eu tenha força para guardar aqueles a que me estão próximos e que, de certa forma, são-me confiados o sustento e a vida.

Deus, dá-me forças; não por mim, pois de Ti dependo, mas para que eu defenda aos outros, os que dependem de alguém para que sejam ouvidos. Não quero mostrar que sou Teu filho; quero apenas sê-lo. Permita-me poder tornar real e aplicável a frase mais crua da Lei Fundamental: “todos são iguais”, mas não apenas perante a lei. Que eu seja assim, um igual. Por Teu Filho, que se fez igual por mim, Amém.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Um dia com minha pilcha

No interesse de honrar as tradições do povo gaúcho, investi, sábado último, em uma pilcha. Esse traje, quase que sagrado no estado sul-rio-grandense (tão reverenciado que é considerado traje formal e de honra por lei), é típica construção de povos que aqui viveram e lutaram, e, em se peleando mutuamente, deixavam parte do seu costume ao vestuário do outro.

Acordei cedo. Tomei chimarrão (o que o faço para acompanhar os outros; no Rio Grande do Sul, não tomar chimarrão é estar isolado do convívio social), acompanhei as notícias dos jornais matinais e li a gazeta. Lenço encarnado, incongruentemente guarnecido das Armas Nacionais a lhe jungir as pontas, bombacha e paletó pretos, bota e cinto em tom de couro natural, camisa branca e um cidadão a se sentir fantasiado: eis-me pronto ao meu segundo dia de trabalho na semana que antecede o Vinte de Setembro do ano de dois mil e oito de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Subia a plataforma ao metrô, de maleta em punho e em passo apressado. “Navegar é preciso”, como sempre me recordo. De repente, um cidadão me cruza o caminho, bochechas rosadas em rosto faceiro, e sou saudado com um “bom dia, gaúcho”. Parei. Que se faz diante dessa assertiva? Meu espanto se deu pelo cumprimento ou pelo fato de eu ser “reconhecido” como gaúcho? E agora, como poderei ser um bom representante da simples, porém nobre cultura do meu torrão?

Ao me sentir visto por todos (embora ninguém me lance os olhos, nem “de revesgueio”), descobri-me gaúcho, pertencente a um povo aguerrido e que nunca se acovardou diante das intempéries, fazendo uma república para fugir de um governo que reputavam injusto. Vi-me simples, um homem na cidade, e não mais um homem da cidade. Enxerguei, por trás dos óculos e no fundo dos olhos, os olhos do correeiro Simão Aguiar e do campeiro Ignácio Cabral, meus bisavós, homens que nunca duvidaram de um ideal de Liberdade, Igualdade e Humanidade, como consta no brasão farroupilha. E senti-me emocionado, como nunca outrora, pois não enxerguei Kans Kelsen, títulos de crédito ou compromissos inadimplidos, mas descobri que defendo pessoas porque as quero humanas, voltando à confiança do fio do bigode, inspirados na atávica sabedoria legada pelo Livro Sagrado, lavando a própria honra com sangue, se assim fosse o caso.

Não deixei o amigo sem resposta. Buenos dias, señor, e me fui ao batente, lidar com meus chasques.