domingo, 30 de setembro de 2007

Champaaaagne...

Mas tudo passa, tudo paaaassará / e nada fica, nada fiiiicará..., canta(va)m Nelson Ned e Agnaldo Timóteo. A vida é assim mesmo, um mutatis mutandis constante. Tão certo quanto o sol que há de nascer no devir, os livros que ensinavam de Processo Civil mudarão ano que vem e as vivências que haveremos de passar serão incomparáveis.

Lembro de um casamento que minha mãe foi madrinha, há uns quinze anos. Ela estava usando um vestido preto para lá de estranho. Se não bastasse ser bisonho, ele contava com mangas bufantes num casaquinho curto (vestido era tomara-que-caia). Era bisonho, digno de ser usado na primeira comunhão de uma menina gótica. Meu desejo à época era de defenestrar o estilista (sim, o corte era de um estilista). Lembro, ainda, do penteado que moldava a cabeleira da genitora: era uma espécie de pigmaleão, cortado e enrolado, e que me faz lembrar em muito as falsas melenas do Rei-Sol. Coisas da vida.

Sou um tanto vintage. Por exemplo, estou usando uma calça de nove anos atrás. Sim, a mesma calça. Excetuando-se a armação do óculos e a barriga saliente, todo o resto do dono é basicamente o mesmo. Enquanto escrevo, ouço Tammy Wynette cantar Stand By Your Man, com um cabelo capaz de desafiar qualquer impacto de alta potência. Alguém tem coragem de dizer que ela não é anacrônica?

Winston Smith, personagem principal de Nineteen Eighty-Four, compra em um antiquário um pequeno peso de papel com um coral dentro. Aquilo lhe era reputado por jóia, ainda que fosse mera quinquilharia; quiçá, pois isso mesmo era valioso: porque era velho. E qual de nós não tem sua porcariazinha, algo quase tão [ou mais] importante quanto o cheirinho (aquele pano fedido de criança)?

Não há como não reconhecer: há cafonices bonitinhas...! Quando conheço uma mulher chamada Aline, sinto-me obrigado a perguntar se conhece a música. Antes de deitar, lembro da propaganda dos Cobertores Parahyba, que várias vezes ouvi antes de chegar à alcova. Quando vou comer mocotó no inverno (um ato quase religioso para mim), passo duas horas ouvindo Richard Clayderman tocar seu repertório pra lá de enxaguado, com direito a Moon River, Ballade pour Adelline e o tema de Romeu e Julieta. Há algo mais brega que isso?

Comentei com amigos meus que iria cantar uma música cafona em meu casamento. As mulheres, como era de se esperar, ficaram horrorizadas. Quando eu disse que a dita música seria Champagne, cantada por Peppino de Capri (o nome já traduz o momento neoproterozóico em que viveu esse ser), uma das moças pulou em minha jugular, aos berros de eu amo essa música! Fiquei sem reação. Ainda há alguém que se lembra da boa e velha Champagne / per brindare a un incontro...!

Lembro dos investimentos em overnight na época da inflação, da SUNAB, do gatilho, da minha primeira cédula de Um Real, recebida na troca dos meus contados Dois Mil, Setecentos e Cinqüenta Cruzeiros Reais, e devidamente acondicionada na caixa do joystick com turbo automático do Super Nintendo. Sempre quis ter dinheiro investido no TC Bamerindus, brincar em um pogobol e tomar Grapette no Óculos do Chaves; esse último eu consegui, mas foi conquistado à guisa de muito incômodo.

Coisas do passado. Coisas que foram e ficaram na memória, mas não voltam mais. O segundo banho de rio é diferente do primeiro, não adianta forçar.

Acho que, da nostalgia, por hoje é só. Para quem não lembra do Peppino cantando, segue abaixo a famigerada música.

Saúde, força e união!

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

De novo

Mais uma vez, tento iniciar um blog. Já é o terceiro. Os outros dois faleceram de inanição, pobrezinhos. O primeiro, lúdico ao quadrado, retratava minha euforia; o segundo, politicamente ácido, tentava mostrar um Samuel sisudo, grave, capaz de protestar contra o instinto de caça de um leão faminto. Como será esse que ora surge?

Pr. Wagner Araújo, amigo meu, aconselhou-me a escrever um diário, à mão, com todo o romantismo que merecem os alfarrábios dos grandes homens. Todavia, não sou um grande homem; sou apenas o Samuel, com manias e defeitos e virtudes e chatices e euforias, tudo-numa-coisa-só. Sou apenas eu mesmo, tão indivisível quanto Demócrito cria ser o átomo.

Acho que estou ficando velho, gordo e contemplativo. Estou aprendendo a ver o mundo por minúcias, o que me causa uma sensação de admiração, o thaumatzein apregoado pelo filósofo; frente a isso, tentarei criar um espaço para dialogar, antes de qualquer pessoa, comigo mesmo; àqueles que quiserem me acompanhar nessa tarefa, serão muito bem acolhidos. Permita Deus que dessa vez vingue!

Provavelmente, esse primeiro acesso será daqueles que estimo, que receberam um aviso meu. Talvez o tempo transcorra e nem eu mais me sinta comovido pelo que eu postar. Não se banha duas vezes no mesmo rio, diz Heráclito. Eis a tentativa de mais um blog. Molhemo-nos. Será que haverá um novo banho?