sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Palavras ao vento


Desde há muito me pego pensando e forçando a alma e as mãos para escrever. A arte da pena é linda, nunca neguei. Sou apaixonado pelo fruto da arte da tinta e papel em letras. Ao mesmo tempo, se gosto de fruir do que os nobres escritores produzem, não sou um bom escritor - não, ao menos, na disciplina, no rigor ou na dedicação que a tarefa requer.

Gosto de falar. Gosto muito, talvez até demais. Ando mais quieto do que já fui há alguns anos. Histórias quanto à minha verve são muitas; talvez a mais emblemática seja a de quando ainda era bem pequeno, que conversava aos cotovelos, e minha tia me perguntava se minha língua não cansava. Claro que não: a língua é um músculo infatigável.

Engraçado: falar não cansa; escrever, sim. Seja pela minha completa desídia, seja porque as cãs (ou o que a calvície for deixar delas) estão a chegar, ando menos falante. Observador, sempre fui, e comentarista dos fatos circundantes, igualmente. Escritor, todavia, sempre fui pouco, bem pouco.

Se há algo que gostaria para o ano que se avizinha, que 2013 trouxesse para mim, é essa vocação para por no papel os sentimentos, os afetos, os coloridos da vida cotidiana. Tenho consciência que sei bem as regras de redação - talvez ainda tropeçando ante às reformas que a ortografia da língua que Camões me legou. Também escrevo bem profissionalmente - afinal, meus ofícios me exigem um vernáculo escorreito e uma visão metodológica do que e como expor o necessário. Mas gostaria de escrever um pouco mais, de modo mais colorido.

A boca fala do que o coração está cheio. O coração não é tão frívolo quanto pensam alguns, e disso até Rui Barbosa já sabia. O papel, frio e áspero, parece ser o império da razão sobre a emoção. Mesmo assim, há quem consiga fazer graça, jogar palavras ao vento com a graça e a leveza dos cabelos das crianças que correm soltas às areias da praia. É disso que estou falando.

Fazer arte também requer esforço. Talvez seja essa arte que eu queira. Talvez seja esforço ao qual eu precise me empenhar. Tomara, ou essas parcas linhas serão só mais palavras ao vento.