quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Eu te-nho...

... e o Barrichello não te-em!

Aguarde...!

Sonhos de se fazer acordado

Lu (Lucia in the Sky) me colocou num meme, convocando-me a escrever sonhos que eu faria acordado e me fazendo convidar oito pessoas. Para saber mais sobre o meme da Lulu, precisa clicar aqui.

As regras da brincadeira, segundo a própria Lucia são:

- Escrever uma lista com 8 coisas que sonhamos fazer antes de 'ir embora daqui';
- Convidar 8 parceiros(as) de blogs amigos para responder também;
- Comentar no blog de quem nos convidou;
- Comentar no blog dos nossos(as) convidados(as), para que saibam da "convocação";
- Mencionar as regras


Dessa feita, convoco à tarefa: Sandrine, Fran, Vivi do Bonfa, Simone, Mãe (sim, minha genitora), Isa, Martin e mais uma alma caridosa que queira se dispor a ser meu oitavo nome; e vamos à minha lista:

1) tocar acordeon (“gaita” aqui no Rio Grande do Sul, “sanfona” no restante do Brasil), mas tocar decentemente, bem tocadinha, que dê gosto no vivente em ouvir;

2) passar todos os dias rodeado de pessoas que eu goste, fazendo só coisas que me dêem prazer (como tocar piano, ler, assistir documentários, debater assuntos de meu interesse – a saber, política, religião, filosofia e direito – e escrever pro blog);

3) ter no bolso o dinheiro suficiente para não ter peso na consciência depois de uma excentricidade;

4) poder acompanhar toda a vida cultural de minha cidade (ou, ao menos, poder ter tempo para ir ao cinema, teatro, recitais, mostras e outros eventos de cunho artístico);

5) poder-me dedicar mais aos estudos, sendo aluno mais aplicado e com resultados mais satisfatórios que os atuais, desde já me preparando aos exames da OAB e seleções para mestrado, doutorado, pós-doutorado e livre-docência;

6) poder-me dedicar inteiramente a compartilhar com os outros a fé que professo e as convicções filosóficas que nutro, sem a preocupação do sustento financeiro ao final do mês;

7) cultivar um corpo físico mais sadio, embora eu morra de preguiça de fazer academia e não curta uma alimentação a base de mato e alpiste;

8) aprender a falar decentemente (e não apenas “me virar”) em vários idiomas;

9) poder ser parte relevante à política local e externa, servindo à minha cidade, estado e país, auxiliando na ordem interna e internacional na resolução pacífica de seus conflitos e problemas, no intuito de instituir uma sociedade mais justa e solidária; e

10) fazer uma festa de aniversário (das de verdade, daquelas que o povo não tenha muita pressa de sair, recebendo os amigos, saindo para comer algo em algum lugar ou, simplesmente, receber os cumprimentos pessoalmente, com afagos e fotografias).

Todas as coisas parecem ser simples, atingíveis, e talvez até sejam, mas são coisas que não tenho hoje e que me alegraria a vida. Ando meio enfarado de tudo, sei lá. Cansado. Está na hora de acordar à vida. Mas que fazer? Navegar é preciso.

+ + +

Tenho novidades para os próximos dias. Porei aqui algo que o pessoal da Fórmula 1 quer, mas nem todos podem ter. Quem viver para ver, verá.

Bom dia e boa sorte!

PS.: para quem não sabe, nasci em 31/12.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Chorando se foi

Por conta de não saber dançar, sempre fiquei de fora das comemorações de fim de ano na escola. Não interessa, sou feliz mesmo assim. Contudo, é inegável que o embalo de Chorando se foi é contagiante. Merece, sim, ser incluída em nossa galeria "Cafona, mas eu gosto!".

Certa vez, toquei o solo da sanfona na escaleta. Quase tive um troço de tanto rir depois. É, definitivamente, essa música fede de cafona, mas ainda comove.

Rebola, guri! Vou dormir. Bom dia e boa sorte!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Desamor (+ comentário genérico)

Ainda creio no altruísmo. Uma prova fragorosa é a jovem Nayara, do famígero caso Eloá. Apenas situando o caso: Eloá e Nayara, ambas de aproximados 15 anos, foram feitas reféns por cem horas. A polícia desfaz o cativeiro e o pior ocorre: o carcereiro, ex-namorado de Eloá, desfere disparos de arma de fogo contra elas, ferindo Nayara no rosto e matando o antigo amor. Além de toda essa situação, que já havia discutido aqui, ocorreu algo que choca os brios de qualquer pessoa e em qualquer época: Nayara, que saíra do cativeiro antes de ser estourado pela autoridade policial, voltou para auxiliar no resgate da amiga, momento em que acabou sendo recapturada pelo algoz.

Duas coisas: uma amizade fala mais alto que qualquer segurança à própria vida. A menina provou que amava a companheira a ponto de oblatar o próprio sangue pela outra. Quão preciosa era tal amizade, mas, antes e maior que isso, quão preciosa jóia Nayara esconde em seu coração: o amor! É de São João Evangelista a afirmação “o perfeito amor lança fora o temor” (I Jo IV, 18). Cá está a primeira lição para nossa sociedade cada vez mais perdida nas procelas da vida: o amor estanca os princípios mais naturais (tais como a fome, o frio, o medo e a sobrevivência) porque o amor não é natural, mas divino! Não são minhas as palavras que seguem, mas de João, o apóstolo que, em sinal de amor, deitou a cabeça sobre o peito de Jesus: “Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor” (I Jo, IV, 7-8).

A segunda das coisas é o descaso da autoridade policial em deixar a menina, menor de idade, voltar ao cativeiro. Como pode isso? Para viajar ao Jardim Botânico, é necessária uma autorização expressa do responsável legal; para uma situação de perigo extremo, tal qual essa, a polícia pode sair por aí, pegando menininhas e mandando à boca do leão?

A menina não se amou, e isso é louvável; a polícia não amou a menina (nem ao menos formalmente respeitou a lei), e isso é condenável. Dois desprezos, dois pesos, duas medidas. De um lado, um gesto mais que nobre; de outro, uma imbecilidade que nem os mais incipientes cometeriam. Ambos os gestos me envergonham: seria eu capaz de voltar como Nayara voltou? E se eu fosse o chefe do caso, qual amor eu deixaria falar mais alto, à lei ou ao caso?

Sinuca de bico.

+ * + * +

Enquanto curto o Dia do Servidor Público em casa, com essa logorréia notória que me acometeu nos últimos dias (já cientificamente comprovada pelo Moacyr Scliar e postado pela minha amiga Lu Nikkel no Lucia in the Sky), vou ouvindo a rádio digital da NET. Adivinhem o que esteve tocando durante a redação do texto? Perfídia, Somewhere in Time, Love is Blue e Rhythm of the Rain! Dignos de irem pra seção Cafona, mas eu gosto!, deixarei para a próxima. Contudo, para quem gosta e quer ouvir agora, basta clicar no nome das músicas.

+ * + * +

Bom dia e boa sorte!

Mau hábito + Confissões + Os Verdes Campos da Minha Terra

Insisto para que as pessoas que me amam leiam os meus escritos, desde quando eu era muito pequeno e meu cursivo era bem graúdo. Desde Tânia Argimon, minha mestra do início do Fundamental, até a Academia, sempre encontrei pessoas caridosas para lançarem os olhos às minhas linhas. Dessa vez, a vítima foi minha mãe: pedi que ela lesse os últimos textos e genitora, agora há pouco, falava comigo por MSN. Além de confessar seu gosto por Jacksons Five, contava sua situação de contraste musical com o gosto do meu pai. Vejamos:

Teresinha diz:
Lembrei de alguns admiradores que tive, sem o menor perfil pra me conquistar como namorada, que gostavam de Nelosn Gonçalves e Odair José.
Teresinha diz:
Acabei casando com um outro, que sempre foi fã de Nelson Gonçalves e Agnaldo Timóteo.
Samuel diz:
Hehehe
Teresinha diz:
E esse me trouxe para os verdes campos de sua terra.
Samuel diz:
Hehehe
Teresinha diz:
Nunca foi boêmio, mas sua terra o teve de regresso.
Teresinha diz:
E, pedindo sua nova inscrição, instalou-se com desejo de ficar pra sempre, até que a morte nos separe.
E eu, feito a noiva branca e radiante, sempre pronta a seguir o homem amado.
Samuel diz:
HAHAHAH!
Teresinha diz:
Alguém merece isso?
Samuel diz:
Tu!


Que bonito! E viva o amor, a paixão, o Agnaldo Timóteo e tudo o mais!

+ * + * +

Minha mãe fez uma miscelânea de músicas absolutamente habituais para mim. Só eu sei o que é dormir ouvindo “quando o treeeeem paraaaar na estaçãããããooo, eu sentireeeei no coraçããão a alegriiiiaaaa de cheegaaar”. Para o desespero do povo e inquietude geral da nação, recebamos, na seção Cafona, mas eu gosto!, ele, o motorista da Ângela Maria, o vereador de São Paulo, o amigo dos taxistas, o cantor da Hebe Camargo, entoando Os Verdes Campos da Minha Terra, o cabriocárico, o estrogonófico, o dióptrico Agnaldo Timóteo!

Bom dia e boa sorte!

Caça às bruxas! + Thriller


Meu blog não nutre preconceitos (eu acho), mas comentar é preciso: já notaram o quanto nosso Brasil foi invadido pela cultura do Halloween? Essa figura totalmente anômala tomou o ideário das crianças de tal modo que, em 31 de outubro, os fedelhos nos batem às portas com gritos frenéticos de “gostosuras ou travessuras” e rostinhos malevolamente angélicos, estendo saquinhos de doces e exibindo máscaras de monstros e dentes de leite. O que fazer com essas criaturas?

Fui abordado, certa vez. “GOSTOSUAS OU TRAVESSURAS!”, bradaram a bruxa de sombra roxa e a múmia de gaze, daquelas que se enrolam no pulso quando a tendinite incomoda e não se encontram equipamentos adequados. Eu não acreditei no que estava acontecendo. Pedi um minuto. O que se dá numa ocasião dessas? Como não achei nenhum doce (apesar de ser hipoglicêmico, i.e., tenho baixa quantidade de açúcar no couro, não sou bom consumidor de guloseimas – deve ser esse o motivo). Daí, entrei no banheiro, peguei um tubo de pasta de dente novo, abordei a miniatura da Onilda e disse “levem e dividam, vocês irão precisar”. Eu que fiz a travessura! Hehehe!

Depois disso, sempre comprei doces que as crianças não preferem. Figos e outras frutas cristalizadas são sempre boas pedidas. As crianças, acostumadas com a naturalidade do sabor do tutti-frutti e da baunilha, não conseguem comer a artificialidade do pêssego e do marmelo. Fazer-se o quê?

Acho que entendi, agora, por que os pais deixam seus rebentos baterem à minha porta: ELES é que ficam com meus doces!

Enfim, meu voto de protesto. Nunca vi as crianças celebrarem “a festa da mula sem cabeça”, mas adoram “a festa da gringolândia”. Isso não é xenofobia, não me entendam mal; apenas acho que é despropositado comemorar uma festa que, para nós, está totalmente fora do contexto: o 31 de outubro (além de ser o Dia da Reforma) é o dia das almas vagarem, antes do Dia de Todos os Santos, que é antes do Dia de Finados (e que, no hemisfério norte, é no outono, quando tudo está “morrendo”). Se considerarmos essa circunstância, só Amapá e Roraima estão certos, pois são os únicos estados que ficam quase que inteiramente acima da linha do Equador!

+ * + * +

Falar em monstros me lembra Thriller, a música que mudou a história dos videoclipes! O álbum de mesma alcunha, gravado pelo monstruoso Michael Jackson (o semblante dele é uma desgraça!) é o mais vendido da história, e o filme com essa música é um dos mais assustadores de todos os tempos. Sim, é Cafona, mas eu gosto! Ladies and Gentlemen, ele, que muda de cor, anda pra trás e come criancinha, Miiiiiiiichael Jackson!

(como não é possível adicionar aqui por desativação por sabe-Deus-quem, clica AQUI e vê a mui cafona Thriller!)

Bom dia e boa sorte!
(imagem extraída de http://www.eb23-diogo-bernardes.rcts.pt/imagem/halloween.jpg)

Heaven Must Be Missing An Angel & Boogie Nights

Uma receita de sucesso para músicas com melodia, harmonia e ritmo segundo os padrões 70's: cinco negros de cabelo igual a uma esponja de microfone, figurino de gosto duvidoso e danças um tanto quanto... Deixa pra lá.

Estou indo pro berço, mas não sem antes deixar a riqueza desses dois trabalhos, merecedores da seção "Cafona, mas eu gosto!": Heaven Must Be Missing An Angel, cantado pelos Tavares, e Boogie Nights, do Heatwave. Com essa overdose de dança e canto, há dúvida que isso é piegas? Não interessa, eu gosto!

Boas audições. Vou nanar. Bom dia e boa sorte!

(senhores adultos, não tentem fazer essas danças em suas casas: prefira reproduzir seus passos somente acompanhado(a) de seu cardiologista e do papa-defunto em plantão)



Perfume de Gardênias

Cresci ouvindo meu pai cantarolar boleros e afins. Agnaldo Timóteo, por exemplo, é-me tão familiar quanto "nana, nenê". O meu velho nos nanava cantando, dentre outras, Os verdes campos da minha terra.

É de pequenino que se torce o pepino. Acabei aprendendo a gostar desse repertório. Hoje, o Trio Los Panchos é uma das companhias do MP3. Fazer-se o quê?

Então, para a alegria de todos e felicidade geral da nação, robustecendo a seção Cafona, mas eu gosto!, recebamos com muitos aplausos, em duas versões, a anacrônica Perfume de Gardênias!

(dica pro patrão: qualquer coisa, servem dois pra lá e dois pra cá)



segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Moonlight serenade

Quantos bailes devem haver sido embalados por essa música? A verdade é que Glenn Miller foi um gênio que respondeu de modo um tanto inusitado aos problemas que ocorriam com sua banda, sempre fazendo execuções perfeitas e envolventes.

Não foi diferente com Moonlight serenade, sua composição mais primorosa. Originalmente com um trompete em solo, um acidente muda a rota que se tomaria: um tropeção no fio do microfone o acaba por derrubar o pedestal em que estava na campana do pistão, resultando num corte no lábio do instrumentista no dia anterior ao da gravação! Como não seria possível o restabelecimento do trompetista a tempo, foi adaptada a parte para que um clarinetista a tocasse. Leve e macia, mas clara e marcante, a participação do clarinete fez com que um instrumento até então tido por "figurante" passasse a ser um magnífico coadjuvante na orquestra. O resultado? Está aí embaixo, para quem quiser ouvir!

Assim, inaugurando a seção "Cafona, mas eu gosto", ele, o magnânimo, o categórico, o intrépido, o catecúmeno, Gleeeeeeeenn Miller!

Boa audição! Arreda a poltrona e mesa de centro, e tira a patroa pra dançar! Patroa, boa sorte para os joanetes!

"Cafona, mas eu gosto!": o intróito

Da outra vez que escrevi algo semelhante, ficou só no intróito. Espero que, dessa vez, a coisa avance. Acho que será mais tranqüilo, até porque não precisarei dedicar horas do meu dia (só para fazer constar, escrevo para o blog geralmente no metrô, no caminho para o trabalho, e levo exatos 28min para percorrer o trajeto).

O YouTube é magnífico. Não sei como pude passar anos da minha existência sem ele. Como sou fã da nostalgia e da cultura inútil, lá há um arcabouço interminável de informações que me podem render bons sorrisos.

Assim, inauguro a sessão "Cafona, mas eu gosto": tudo o que é bom, mas cheira a naftalina, terá espaço nesse canto.

Bom dia e boa sorte!

Santinhos profanos

Outrora em 15 de novembro, atualmente no último domingo de outubro, os colégios eleitorais com mais de duzentos mil votantes precisam sufragar novamente caso não haja maioria dentre os votos válidos a um dos candidatos às chapas majoritárias. Eis um conceito que poderia ser abertura de Wikipédia para “segundo turno”. Se na teoria representa a legitimidade advinda da escolha da maioria do povo, a prática desdiz qualquer argumento webberiano: novo pleito é a possibilidade de reverter uma votação menor, aumentar a trupe e dividir a pizza em mais (e menores) pedaços.

A Mui Leal e Valerosa Cidade de Porto Alegre reelegeu seu prefeito. Isso é fato inédito. Gaúchos são curiosos e “pagam pra ver” no que vai dar; a maior prova dessa afirmação foi o fato de ser uma das primeiras capitais da Pindorama a eleger um petista, mantendo o partido da estrela por dezesseis anos. Depois de quatro gestões de integrantes do 13, veio um filho da cidade, emblemático por suas músicas e político de reputação ilibada, e mudou o cenário até então previsível. Ontem, mais uma vez, o grupo político do Presidente da República foi rechaçado, reelegendo José Fogaça (autor de Vento Negro e de uma outra música, que eu não lembro o nome; ainda, é da esposa – e dele também, talvez – a mítica Porto Alegre é Demais).

Como trabalho em uma das cidades da região metropolitana (não propriamente em minha terra natal), vivi duas eleições à minha volta. Sapucaia do Sul, conhecida no cenário nacional como local onde se escondem animais de toda a sorte (seja pelo Zoológico, seja pelo ninho de cobras políticas que se esgueira por lá), preferiu não manter seu atual prefeito. O cidadão não ficou muito contente e quebrou tudo na semana após sua derrota. Literalmente: arrebentou com o próprio gabinete!

Esse foi o segundo pleito em que trabalhei como presidente de seção eleitoral. Depois de 18h de cárcere público (pois foi a Justiça Eleitoral que me convocou) e $30 mais rico (os dois auxílios alimentação, pelos dois turnos de votação), fico num sentimento misto de “fiz minha parte” com “tá, e daí?”. Depois que passa toda a algaravia, jingles, pancadaria verbal (sim, bem sinestésico) e empregos estranhos (como “tremulador de bandeira”, “panfleteador partidário” e “porta-estandartes em semáforos”), só resta a sujeira da votação, os muros numerados de vereadores e as folgas que o certame oferece. Só isso.

Estou perdendo a esperança no meu povo. Isso é mau, muito mau. A res publica (em latim, coisa do povo, é a nossa república) é uma coisa, mesmo. Por isso, não sei até que ponto deveria haver segundo turno: se colocarmos (eu também sou povo, c’est la vie) um rinoceronte no Paço Municipal, a prefeitura não deixará de andar (quem toca o trabalho “de verdade” é a assessoria)! Assim, qual é a legitimidade do segundo turno?

E a vida rola, e os santinhos vão sujando as ruas, e as alianças são constituídas nos diretórios, e nada é novo na frente ocidental. É, gente... E a vida passa, e a água rola, e o vento sopra, e os santinhos-cheios-de-promessas estão ficando cada vez mais profaninhos-com-poucas-verdades...!

Boa semana e boa sorte para nós!
(durante o almoço e, mais uma vez, sem revisão; vou ter de começar a escrever com mais tempo)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Grande Heráclito!


Sempre gostei de Heráclito e a dua idéia de que tudo flui ("não se toma banho duas vezes no mesmo rio"). Agora, com o toque do Frases Ilustradas, melhor ainda! O blog é uma boa pedida para quem gosta de reflexões interessantes e imagens legais que as ilustrem

Até mais!

Você será destruído em...

Com a preocupação de falar bom português, tentei suplantar o pronome “tu” do vocabulário. Aos poucos e naturalmente, “você” foi tomando conta da língua e do lápis, por mera preguiça mental e conveniência à persecução do vernáculo escorreito. Descobri, porém, que é pura hipocrisia minha: é-me tendente falar o pronome da segunda pessoa do singular nas conversas mais ligeiras, acaloradas, e deixar o “você” nos momentos em que se pode “pensar para falar”.

Uma circunstância atenta contra esse que é o pronome mais empregado pelos gaúchos: cá nas bandas do Sul, ninguém se apega à adequada conjugação verbal, vista como “detalhe” na boca do povo; o resultado é a anômala pergunta que se pode ouvir de um amigo ou um colega de trabalho: “tu já foi no lugar ‘x’?”.

É uma preocupação boba? Quiçá. É uma necessidade acadêmica “empregar satisfatoriamente a língua portuguesa”? Deveras. Causa comoção ao ouvinte o excesso de ss? Decerto. Convém não sepultar nosso amiguinho “tu”? É mister.

Assim, chega de máscara! “Tu foste”, “tu falaste”, “tu vens” e outros “tus” me serão por companheiros. Boa viagem, amiguinhos! “Você” será destruído em 5... 4... 3...

+ * + * +

Meu blog já fez um ano de feliz existência! Ontem, em animada reunião comensal com pessoas estimadas, das cinco que me brindavam com a companhia à mesa, apenas duas sabiam da existência dessas tão mal escritas linhas. Vou lançar uma campanha: será dever meu indicar DOIS (só dois, pra ficar fácil) blogs de amigos para meus amigos; depois disso, quem eu indicar me indica e indica mais dois (ou seja, três indicações); quem foi indicado coloca dois mais quem lhe indicou e, em breve, o GMail estará cheio de spams!

Assim, conclamo o povo brasileiro, a massa carcerária, as mulheres de soutien, os burocratas cartorários, os impertinentes debilóides, os energúmenos tecnocratas e os pretéritos mais-que-perfeitos a me auxiliarem na empreitada!

+ * + * +

Começo eu, então: indico o blog da Lu (Lucia in the Sky) e o da Fran (Universo Ladybug), que são minhas leitoras e que tem um monte de contatos. Agora, gurias, mexam-se! Hehehe!

+ * + * +

Abraço a todos. Bom dia e boa sorte!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Certified by Lu Nikkel

Ganhei um Oscar! Lúcia Nikkel (uma das minhas poucas leitoras, que ainda se animam a deslindar esses alfarrábios), deu-me “um selinho de qualidade”. Brigadão, guria!

O blog dela é bem legal, com textos bem coerentes e pessoais. Agrada-me muito o “cantinho” dela. Agradeço o carinho postando um dos seus últimos textos, publicado no Lucia in the Sky, que segue sempre acompanhado aqui à nossa direita. Passe lá, confira os textos e veja meu prêmio aqui!

Abraços!

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Revolta...

Um misto de tristeza e raiva. Depois de dias acompanhando 'o seqüestro', não acreditei no noticiário. Baleadas? Morta? Não queria acreditar. Acho que ninguém esperava um desfecho trágico como esse, eu definitivamente não esperava. Imaginei a dor da família. Dói demais.
Amo meu país, mas foi uma vergonha essa ação. Me sinto insegura.
E, tão rapidamente, a família teve uma lucidez que às vezes me falta.
A doação de órgãos. Prontamente. Rapidamente. Sucesso absoluto. Totalmente o oposto do que acontecera até ali.
Vida.
Que dizer diante dessas coisas? Nem sei mais... só peço a Deus que nos proteja e tenha misericórdia do nosso país. Livrai-nos do mal, Amém.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A Rainha vale mais?

O xadrez é uma atividade que aprecio. Permitindo o Senhor dos Mundos, meus filhos aprenderão desde cedo a jogar xadrez, e terei o prazer de perder para eles (se bem que, para isso, não precisa muita coisa). Quero que todos na minha casa joguem xadrez, todos. Quero ter a alegria de passar dias desafiando e sendo desafiado pelas crianças e pela Menininha Ruiva. Sei não, mas acho que serei um pai chato. Acho que meus filhos irão se divertir muito mais com o tio deles, que é divertido e joga bola. Droga de vida.

Uma coisa me assusta na arte enxadrista: o rei é maior que tudo, e dele depende plenamente o jogo, de modo que a atividade se perde por completo sem sua presença. Esse regicídio (ou a persecução desse regicídio), mesmo que legítimo numa sociedade medieval/patriarcal/oriental, não combina com nossa realidade, com a nossa visão contemporânea: o Brasil, que não teve presidentes legítimos por vinte anos, não ficou sem jogar na política – muito pelo contrário, colocou generais superpoderosos, muito semelhantes às rainhas do tabuleiro.

Eloá, a menina encarcerada de Santo André, precisava ser mantida em incolumidade: eis o rei da situação. A rainha era fazer-justiça-e-prender-o-cara-mau-e-bem-mais-velho-que-fazia-a-menininha-refém. Um jogador muito novato (que nem lembra como é o L do cavalo) defenderia o rei, deixando até que a rainha fosse capturada, se fosse o caso. Infelizmente, nossos governantes não jogam xadrez, e preferiram que a senhorita fosse baleada a deixar de “fazer justiça”; como não creio que nossos mandatários não saibam se mover no tabuleiro, será que não atribuíram valores distorcidos às peças? Será que a rainha, peça alta e robusta, com inúmeros movimentos e muita versatilidade, será que ela não ludibriou o competidor, que dispensou o fraco rei, imponente e limitado?

Malba Tahan, o homem que calculava, dizia que a rainha era o próprio povo, que tinha muitos poderes, mas que dependia do soberano. Em nosso país, “todo o poder emana do povo”, conforme nossa própria Constituição. Sob a óptica do esporte do Mequinho, é preferível perder a rainha e vencer o jogo, salvando o monarca; daqui me pego a refletir: será que o povo é visto por nós como “rei” (que tem dificuldades para locomoção, mas é o mais importante do seu meio) ou a nação é tida como “rainha”, que, muito embora seja deveras importante, é apenas uma peça de combate?

(escrito na perna e sem revisão alguma)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Mergúmeno

Volto de carona todos os dias em que tenho aula. Dividimos o custo do combustível e seguimos felizes, eu e meus colegas de faculdade. Ocorre, contudo, que uma coisa não os deixa muito felizes: as pessoas costumam me chamar para falar, o que acaba deixando o motorista meio nervoso. Acontece. A questão é que, hoje, fui chamado de "mergúmeno". O que viria a ser "mergúmeno"? É uma qualidade abstrata, batráquia, rélpis? Enfim, deixa pra lá!

Aí segue uma notícia de uma verdadeira "mergúmena".

Abraço e boa semana!

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Brasileira é detida após sair nua pelas ruas em Hong Kong
Jovem, que gritava ser 'o demônio', foi levada a hospital e liberada no mesmo dia.


Da BBC

Uma brasileira foi detida pela polícia de Hong Kong após correr completamente nua pelas ruas movimentadas do centro da cidade neste fim-de-semana.

Por volta das 9h00 da manhã de sábado, no horário local, a jovem Talita Anikan, de 20 anos, saiu pelo bairro de Wan Chai assustando os pedestres e gritando que era "o demônio" e que a "hora do juízo final havia chegado".

De acordo com testemunhas ouvidas pela polícia, Anikan saiu do elevador do prédio em que reside e correu completamente nua por cerca de 30 metros até se abrigar em uma loja de celulares, onde se sentou e cobriu o corpo com os braços.

O segurança de um prédio viu Anikan sair do elevador sem roupas e chamou a polícia.

Policiais e serviços de emergência chegaram ao local minutos depois.

Os oficiais cobriram Anikan com um cobertor antes de levá-la de ambulância para um hospital.

A polícia disse à BBC Brasil que a brasileira não soube explicar seus atos.

De acordo com informações dadas pelo hospital, Anikan foi liberada no mesmo dia. Testes clínicos iniciais não mostraram sinais de embriaguez ou uso de drogas.

A brasileira não tem histórico de internações por doenças mentais no sistema de saúde de Hong Kong.

A polícia registrou o incidente, mas a brasileira não foi enquadrada em nenhuma contravenção, informou à BBC Brasil a assessoria de imprensa da corporação.

O consulado brasileiro de Hong Kong disse que não foi contatado pelas autoridades chinesas e desconhece maiores detalhes do caso, porém está à disposição para auxiliar Anikan e deverá tentar falar com a brasileira em breve.

Uma vizinha de Anikan afirmou ao jornal local South China Morning Post que ela se mudou para a cidade há cerca de dois meses.

As time goes by



You must remember this,
A kiss is just a kiss,
A sigh is just a sigh,
The fundamental things apply,
as time goes by.

And when two lovers woo,
They still say "I love you,"
On that you can rely,
No matter what the future brings,
as time goes by.

Moonlight and love songs,
never out of date,
Hearts full of passion,
jealousy and hate,
Woman need man, and man must have his maid,
that no one can deny.

It's still the same old story,
a fight for love and glory,
A case of do or die,
The world will always welcome lovers,
as time goes by.

Deus dos Antigos

(AUTOSAG)

Deus dos antigos, cuja forte mão
Rege e sustém os astros na amplidão
Do cintilante céu inspirador,
Com gratidão cantamos Teu louvor.

Já no passado foste nossa luz;
Hoje És farol que à vida nos conduz;
Sê nosso esteio, guia e proteção;
Tua Palavra, Lei e Direção.

Da guerra e morte ou crime assolador
Seja o Teu braço nosso defensor;
Nos corações implanta a fé audaz
Para fruirmos Teu amor na paz.

Teu povo, ó Deus, restaura em seu labor;
Transforma a noite em dia de esplendor
As nossas vidas vem fortalecer
Para Teu nome sempre engrandecer

sábado, 11 de outubro de 2008

Sonhos

O que é um sonho? Um desejo surreal para a vida real ou é um descolamento real de uma vida surreal? Anos de terapia podem ajudar, mas não creio que respondam plenamente o que questiono.

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Pensava, hoje à tarde, em Pigmalião: o cidadão começou a notar os defeitos das mulheres e se encheu com isso; preferiu, assim, sonhar com uma mulher perfeita, esculpindo-a para si, e rogando a Afrodite que tal estátua se tornasse uma amante real. Foi o que houve: a deusa do amor presenteou o artífice, dando ao mármore o fôlego vivente, e puderam-se unir em casamento.

Que riqueza de acepções há nesse indivíduo e nessa história! O ser humano é incompleto por natureza, e tão incompleto é que, para fugir dessa realidade, procura alguém que supra as necessidades; ocorre, contudo, que essa busca pode se tornar longa e difícil, a ponto de muitos desistirem no meio do caminho. Outros, entretanto, resolvem dar solução própria às suas pendências, lançando mão dos recursos próximos disponíveis para seu hedonismo; não sendo isso sempre possível, recorrem à divindade, num ato de re-ligação (e, nisso, frisa-se a idéia de religião) visando à auto-satisfação e, nesse encontro metafísico, pretende-se ao menos manipular o supraempírico (quando dominar fica muito distante das limitações).

Digredindo, lembro de Martinho da Vila (que, embora não muito erudito, compôs o tema de Pigmalião): para já quem teve “mulheres de todas as cores / de várias idades, de muitos amores” e em nenhuma delas encontrou a felicidade, somente buscando fora da humanidade a solução dos seus problemas.

Não foi a estátua que ganhou vida, mas foi a divindade que penetrou num desejo de um mortal. Contudo, uma estátua e um sentimento são eternos; uma mulher é uma mortal, finita e limitada. Perdi contato com Pigmalião e Galatéia, sua senhora: sei que tiveram Pafos, um menino, e assim ficou. Se ela ficou com estrias, celulite ou flacidez, a mitologia não contou. Se a coisa fosse puramente divina, ela teria a chance de ficar perfeita; mas não dá pra esquecer que, quando o homem põe a mão nas coisas, sempre há uma imperfeição. Do Criador eram o mármore e a alma, mas a forma era humana. Dá pra ser, depois disso, perfeita?

+ * + * +

“Não recebemos as respostas que queremos porque não fazemos as perguntas necessárias”, disse-nos o professor em sala de aula. Temos, todos nós, as soluções às nossas carências: os sonhos. Neles, excluímos todas as possibilidades tangíveis e colocamos à sorte aquilo que não nos está nesse escopo. Chega Deus (ou o tempo, ou a sorte, ou o seja-lá-qual-motivo-for) e nos dá o que ansiamos; será que basta?

Enfim, sonhar é do ser humano. Se certo ou errado, não interessa. Persigamos esse alvo. Só uma coisa pode ser maior a uma pessoa que atingir um alvo: buscá-lo.

+ * + * +

Se os homens dessem mais atenção à colocação dos problemas em termos reais e objetivos, do que costumam dar às teorias, haveria menos desentendimento e um maior esforço de colaboração, de compreensão e de paz. O esforço no sentido de colocar os problemas em termos reais e objetivos exige honestidade de propósitos, sinceridade, espírito de dedicação, compromisso com a verdade antes de tudo, em lugar da luta cega pelos interesses imediatos. Por isso, ouso fazer esse convite: procuremos as soluções que se esforçam por colocar os problemas como eles devem ser colocados, em lugar de colocar os problemas de modo que eles caibam nas soluções que já trazemos conosco antecipadamente. Somos problemas à procura de soluções: a solução primeira é tomar consciência dos problemas, dos problemas que nós somos, dos problemas que nós pomos, dos problemas que se põem para nós, dos problemas que devemos descobrir diante de nós. É mais fácil construir uma teoria do que formular com precisão um problema – eis a questão. E por isso dizemos que as soluções estão à procura dos problemas.

[MENDONÇA, Eduardo Prado de. O mundo precisa de filosofia. 7.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1984, p.73.]

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Bryan

Estou a me dever a escrita desse fato. Ocorreu terça-feira, na plataforma de embarque do metrô, saindo do trabalho a caminho do Serviço de Assistência Judiciária Gratuita em que atuo na faculdade.

Em cima da hora, não podia sequer pensar em perder um segundo. Aguardando um tanto quanto impaciente a chegada do veículo que me levaria ao destino, chega do outro lado um quarteto de vagões, indo em sentido contrário, e descarrega boas dezenas de pessoas, como sói ocorrer. Dentre tantos homens e mulheres, um garoto de rosto redondo e sujo, de roupa rota e de caixa de engraxate no ombro, ruma à escada rolante. Ao ser notado, o caminho do guri mudou: veio direto a mim, apôs seu caixote ao chão e disse-me “vamo, tio”, apontando aos meus sapatos.

Confesso que não estava muito disposto a ver meus calçados serem polidos pelo menino que julguei não saber fazê-lo de modo satisfatório. Disse que estava atrasado e que não poderia perder o trem. “Não tem problema, eu entro junto”, disse-me, com a docilidade pueril, mas a necessidade cruel da vida. Pobre menino: já sabe que é preciso navegar.

Aceitei. Ao entrarmos, foi separando seus apetrechos enquanto continuávamos uma conversa. Perguntei quanto ele pedia pela tarefa. “Um pila” foi o que ouvi. “Darei-te dois, pra valorizar teu trabalho”, e deixei que realizasse sua missão.

Tudo pronto, dinheiro alcançado, convidei-o para sentar ao meu lado. Ele, um menino mal vestido e sujo, lutando pelo seu ofício; eu, um menino de terno e gravata, cheirando bom perfume e lutando pelo meu. Tão parecidos, mas tão diferentes!

Perguntei o que ele havia comido. Nada. Maldades da vida: quem luta para se manter, não se sustém, e quem nada faz, tem de sobra. Fi-lo prometer que comeria com mais um trocado que dei. Levantou-se feliz e disse que, de barriga cheia, poderia trabalhar mais.

Mas nem precisou. Quando iria descer do vagão, uma cidadã o interpelou para uma graxa.

Deus te abençoe, Bryan, dando-te forças para lutar pelo que tu queres. Que Ele te encaminhe para longe do caminho que teu irmão escolheu e te ponha longe do crime. Que o Grande Arquiteto do Universo te construa uma vida de glórias e te dando a maior das riquezas: a de espírito. Que Deus te conserve assim, menino.

Samuel, um guri,
irremediavelmente humano

Poemas no trem

...

Meu alvoroço de oiro e lua
Tinha por fim que transbordar...
- Caiu-me a alma no meio da rua,
E não a posso ir apanhar!

(fragmento de “Sete Canções de Declínio, de Mário de Sá-Carneiro, colocado no metrô)

Amigo punk

Emocionalmente, estou tri bem (um dia, escrevo para quem não é gaúcho o que quer dizer o “tri”); fisicamente, tô com uma rinite complicada. No inglório saber do meu germano, estou com uma “peste do mal”. Ta feio o caso. A cabeça parece um balão. Detalhe: fiz um tratamento pra ver se ajeitava, mas voltou. É alérgica a coisa. Tomara que não preciso tomar corticóide até o fim da vida: dá uma fome do cão e deixa inchado o seu usuário: só para provar, sinto que tenho a própria órbita, e os objetos à minha volta não caem mais, sendo todos atraídos ao meu próprio baricentro. Agora entendo plenamente o que quer dizer a expressão “tudo girar em torno do próprio umbigo”.

Tá feia a coisa. Tá punk. E enquanto vou convivendo com esse amigo indesejado, deixo a música da gaúcha Graforréia Xilarmônica (mesmo estando a tocar no trem “Dançando Lambada”, música com que Herodias seduziu a atenção a atenção de Herodes). A animação é terrível e a letra é rústica, mas bem curiosa. Para quem conhece um pouco da cultura gauchesca, consegue-se notar uns traços gaudérios na execução. Boa audição para quem se animar a ouvi-la.

Sabuéu, o cõngestiodado

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Vesti la giubba



Recitar,
enquanto tomado pelo delírio
não sei mais aquilo que digo
e aquilo que faço.

Todavia é necessário. Esforça-te! Vai!
És tu talvez um homem?
Ah! ah! ah! ah! ah!
Tu és Palhaço.

Veste o casaco
e a cara enfarinha.
O povo paga
e quer rir aqui.

E se Arlequim
te rouba a Colombina,
ri Palhaço
e cada um aplaudirá.

Muda em piadas
o espasmo e o choro,
numa careta o soluço
e a dor.

Ah! Ri Palhaço,
sobre o teu amor partido.
Ri da dor
que te envenena o coração!


I Pagliacci, de Leoncavallo

sábado, 4 de outubro de 2008

No ass

Notei uma coisa em Pelotas na viagem: o povo ali não tem bunda! Salvo raríssimas exceções, as mulheres exibem quadris largos sem derrière e os homens são desprovidos de qualquer arremate glutear. Que estranho!

Que será que houve? Miscigenação (ou falta dela)? Anomalias genéticas? Ou será que, simplesmente, a seleção natural tratou de deixar o povo sem poupança?

No saber de Dona Milu, “Mistéééérios...”!

Passando pela Princesa


Estar em Pelotas, a Princesa do Sul, traz-me lembranças nostálgicas. O povo é por demais acolhedor, a vida tem outro pique e o português, outra conjugação.

Enquanto espero no barbeiro o momento de ser atendido, vou colocando em dia as coisas que só se vêem por aqui.

+ * + * +

Na Rodoviária

Desembarco na Rodoviária, um prédio de formato profissionalmente estranho, depois de três horas de genuína hibernação. No caminho para a bilheteria, uma menininha de sorriso maroto e suas três ou quatro primaveras joga seus cabelos ao ar e me ofusca os olhos com a alvura dos dentes miudinhos que lhe brotam da boca pequena. “Cosa linda”, diria meu avô. Valeu minha viagem.

Subo uma rampa espiralada e íngreme que dá para os guichês de venda de passagens. O infeliz que projetou o paradouro achava que aquilo ali facilitaria o acesso a quem está com malas de rodinha ou cadeiras de roda; é um abestado, mesmo! Sofri para subir a elevada, carregando apenas uma pasta e uma barriga! Até quando criança, macrocéfalo e esquelético, era complicado vencer a suba! Lembro do meu irmão a descer rolando, para desespero da minha mãe: “Misinho!”, dizia ela, enquanto nosso genitor dizia “vamo, vamo” e nos carregava qual um reboque de família em plena Briói.

Fui, vi e venci. Cheguei na bilheteria, comprei antecipadamente o regresso à capital dos gaúchos e fiquei “devendo” cinco centavos ao bilheteiro (disse eu “ou te devo uma moeda, ou eu te dou uma de cem”). Lucrei. Espero que, a despeito da minha economia, deixem-me tomar o refrigerante do frigobar do ônibus.

Para baixo, todo santo ajuda. Invoquei Santa Gravidade e roguei que não me atraísse a ela com seus implacáveis 9,81m/s². Antes, porém, de atacar o declive volteado, vi uma placa surreal: não se pode circular de bicicleta dentro do terminal rodoviário! Caramba! O que leva alguém a ir de bicicleta à Rodoviária? Seria, talvez, um modo de não precisar pagar estacionamento, dobrando a monareta e colocando-a na mala?

+ * + * +

Hora da bóia

Peguei um táxi e fui pra casa almoçar. O taxista me contou o panorama eleitoral, as preferências aos edis, recomendou-me um restaurante, contou quem ganhou o último turfe, reclamou de seu empregado que bateu o carro de trabalho e disse estar feliz pelo Xavante estar rumando à Série B do Brasileirão. Tudo isso em 10min.

Cheguei, larguei as coisas e roí algo com pai, mãe e cachorro. Embora não haja sido cozinhado por ela, o rango comprado na vizinha tinha cara de “feito por mãe”. Boa bóia.

+ * + * +

Navegar é preciso

Trabalhar é bom e o Lula agradece. Fui pro trabalho, carregando uma hipotensão básica após deglutir a panqueca de guisado. A reunião foi meio esquizofrênica, com várias falas altas, coisa e tal. Findos os trabalhos, encontrei meu irmão, comemos algo numa lancheria e fomos pra casa.

+ * + * +

Teletrabalho

Masquei um saco de amendoim comprado na rua, assisti um pouco de TV (propaganda política e o fim de uma sessão do STJ) e resolvi cochilar um pouco, pois queria escrivinhar um projeto que, se executado, será bem legal para mim e para meu trabalho.

Acostei-me acompanhado do jaguara, meu leal escudeiro. Acordei às 23h30min, com um bauru à minha frente e vozes altissonantes apregoando um “comi, guri”. Atendi ao imperativo, mas não dei conta de todo o lanche. Deixei pro pai arrematar.

Assisti um pedaço de Cold Case, em que contava a história de uns casais hippongas e um crime passional, e fui trabalhar. Entre redação, leitura e análise de documentos, as horas passaram e já eram 5 da matina. “Tá na hora de dormir / não espere mamãe mandar”.

+ * + * +

Dia da volta

Levantei tarde, em virtude do horário em que cerrei as pálpebras. 10h30min, saí de casa para mais um turno de labuta. No Gabinete do Diretor-Geral, conversei com “as gurias” e fui almoçar com...

(barbeiro chamou)

... com o meu amigo Erasmo Carlos, digo, Martin Brauch. Encontro agradável, sushi e lembranças juvenis.

Cafezinho, relax e corte de cabelo tomaram o resto do meu tempo. Uma barbearia “clássica”, com direito a um monte de homens falando do Campeonato Brasileiro e do Brasil de Pelotas indo para a Série B foi o local de tosa das melenas.

Tentei comprar, sem sucesso, uma camisa nova; não havia camisas com punho duplo à venda; talvez houvesse, mas o vendedor fez uma cara de tão perdido quando eu a pedi...! Para ter uma idéia, fui questionado se “esse tipo de camisa” seria de manga curta ou longa!

+ * + * +

Na pressão

Cheguei em casa, tomei café e aguardei meus pais para sairmos juntos, pois iríamos aproveitar o mesmo táxi. Como meus ascendentes são enrolados², quase que perco o transporte de volta. Cheguei cinco minutos antes da partida do autocarro.

+ * + * +

Chega. Até mais!

(imagem retirada de Câmera Viajante)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Melancolia

Um vazio no estômago, uma cefaléia do tamanho de um bonde, um sentimento de dia meio sem graça, os pés cansados, os olhos ardendo, o peito e braços doendo, falta de ar, sorumbático, combalido, sentindo-me uma belonave à deriva, prestes a soçobrar diante das procelosas vagas daquilo que chamamos “vida”: é assim que me sinto agora.

Fico e deixo, antes de reclinar, com uma das mais belas e deprimentes canções de Beethoven, o primeiro movimento da Sonata ao Luar, composta já em estado de avançada surdez para uma cega que queria poder contemplar o cortejo fúnebre que passava diante da vidraça em que se quedava.

Amanhã (digo, hoje) visitarei a Princesa do Sul. Qualquer coisa, estou no celular.

Boa noite.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Vieses

Para o suicida:
É o fim. Chega, cansei. Aqui está o dinheiro. Adeus. Mate-me logo.

Para o irmão:
Por que ele? Por quê?

Para o motorista:
Droga de trânsito. O que aconteceu dessa vez? Quanto tempo leva?

Para o curioso:
Só sei que tem um monte de gente na volta e que a polícia foi chamada há pouco.

Para o padre:
Onde está a família?

Para a polícia?
Onde está o DML?

Para a família:
O que faremos?

Para a funerária:
Lamentamos muito.

Para o legista:
Perfuração crânio-encefálica com conseqüente hemorragia e perda de massa encefálica motivadas por projétil de arma de fogo.

Para o banco:
Uma dívida.

Para o carteiro:
Uma economia.

Para a florista:
Um trabalho.

Para o amigo:
Uma perda.

Para o médico:
Uma baixa.

Para o assassino:
Um favor.

Para o noticiário:
Foi encontrado sem vida o corpo do artista circense Silvino Araújo de Carvalho, o palhaço Leumas, no Edifício das Hortênsias, em Otrop do Sul. A polícia está investigando o caso, ainda sem indícios de autoria. O irmão de Silvino diz que, mesmo em suas polêmicas, era bem relacionado e não tinha inimigos. O corpo de Leumas será velado no Clube dos Pedreiros-Livres, em que sempre militou.
Leumas deixa um legado de uma obra completa e duas inacabadas. Suas participações, incontroversamente exuberantes, marcaram o jeito de se apresentar; combinando “progesterona” com “efeméride”, cativou platéia seleta com suas piadas desajeitadas, porém de rasgadas críticas. Dito tímido, Silvino pouco exibiu sua vida pessoal: dividido entre a paixão por “uma menininha ruiva” (em clara comparação a Charlie Brown) e à música (tocou oboé na orquestra da escola em que estudou), desempenhou papel relevante no combate ao que chamava de “tecnicismo macambúzico”, valorizando sempre o lado bom da vida e arrebanhando poucos, porém fiéis companheiros.

Para o obituário:
A família do sempre lembrado Silvino Araújo de Carvalho, o palhaço Leumas, convida V. S.ª para os atos de sepultamento de seu amado ente, a se iniciarem às 1º/10/2008, às 17h, na sala do Clube dos Pedreiros-Livres, em Ortop do Sul e, em seguida, o féretro rumará em direção ao Cemitério Ecumênico Firmino Eusébio Treichel, Ala São Sebastião, onde o corpo será inumado. A família enlutada.

Pensar dores

- NIETZSCHE!
- Saúde.
- Obrigado.
- Tá Marx eim?!
- Tô com uma Adorno corpo danada...
- Cuidado eim, com mosquito da Heidegger.
- Arquimedes que eu tenho de ficar doente...
- Estou brincando.
- Acho que foi o Schopenhaeur de ontem?
- Quânticos?
- Sete, e cinco Pasteur de Bacon.
- Nossa! Fosse eu teria posto os Boff pra fora.
- Sabe como é... Um tira Agostinho aqui outro ali...
- Sei, e acaba no Soren...
- É só uma Wittgenstein.
- Quer um Karl de fruta?
- Zenão, obrigado.
- Você precisa parar com essa mania de Feuerbach todo dia...
- Pascal é o problema?
- A coisa pode ficar Rousseau pro teu lado.
- Que nada... Só preciso tirar uma Sêneca e tudo bem...
- Sartre dessa vida!
- O problema é que eu Goethe tanto de cantar num Karl o que...
- Hannah?
- É isso mesmo... Quem Kant seus Tales espanta.
- Ora, me Popper!
- Vai me dizer que não Goethe de Tomás de Aquino com os amigos?
- Gustav, não Goethe mais.
- Nem Jung golinho?
- Não!
- Max por quê?
- Gustav, até o dia que não pude Voltaire pra casa sem ajuda...
- Isso é Freud mesmo...
- Anaxágoras mudei o Foucault da minha vida.
- É?
- Por isso, Newton nem aí se quiser se acabar, mas não Comte comigo.
- Spinoza senhora! Senti uma Pitágoras de amargura aí...
- Problema Ptolomeu.
- Calma! Einstein com algum problema?
- Desculpe... Ando me sentindo Schleiermacher...
- hum, hum...
- Tenho medo de ficar Sócrates...
- Besteira.
- O médico disse...
- Pode falar, o Kierkegaard que seja...
- O médico disse que estou com... Strauss.
- Puxa! Que nada a ver... Mas não Descartes a possibilidade.
- Platão Confúcio pra mim.
- Heigel a cabeça rapaz!
- Acho que eu é que estou precisando de um Schopenhaeur...
- É assim que se fala! Quer do claro ou Epicuro?
- Epicuro.

- NIETZSCHE!
- Zeus te crie.
- Arendt.


(descaradamente copiado de Verticontes)