quarta-feira, 10 de junho de 2009

Geração Xuxa

(Juremir Machado da Silva)

Passei anos procurando um culpado para o miolo mole dos brasileiros das últimas gerações. Inclusive o meu. Sempre soube que o Rio Grande do Sul havia contribuído para transformar o Brasil num celeiro de figurinhas patéticas ou simplesmente bobinhas. Cheguei a imaginar que o responsável era exclusivamente o Louro José. Essa hipótese é boa, mas não dá conta do que acontece com quem nasceu antes do aparecimento do filosófico papagaio da Ana Maria Brega. Sem contar que Louro José não é gaúcho. Outro dia, lendo a Folha de S. Paulo, numa viagem de Belo Horizonte para Porto Alegre, tive a confirmação do que eu já suspeitava: a culpa é da Xuxa. Ninguém fez mais pela 'imbecilização' dos nossos 'baixinhos' do que ela.

O problema é simples: uma vez baixinho, acreditem, sempre baixinho. Até o cérebro encolhe. Xuxa sempre se apresentou como uma rainha. A mídia é monarquista. Mas, sinto muito se vou decepcionar alguns com esta revelação, ela é uma bruxa. A Xuxa é a Madame Mim. Ela acaba de inventar um menino príncipe para contracenar com sua filha, Sasha, no filme 'O Mistério da Feiurinha', que será dirigido pela ex-cineasta Tizuka Yamazaki. Sim, eu implico com a Xuxa. Acho que ela não tinha direito de chamar a filha de Sasha. A pobre menina rica vai passar a vida mascando o próprio nome. Além disso, ela quer transformar a guria em personagem de um Harry Potter tupiniquim. Qual o problema disso? Bem pensado, nenhum. Agora, se o Ministério Público mete o nariz no trabalho da menina Maísa, que é inteligente e faz papel de inteligente no programa do Sílvio Santos, devia também meter o bedelho nas atividades nocivas da bruxa Xuxa.

Faz, sei lá, algumas décadas que ela erotiza precocemente as crianças. Até aí, alguém pode dizer, nada de novo no front. As novelas fazem sacanagem ainda maior. O problema mesmo é que Xuxa transforma as crianças em chatas. Sempre com aquele ar asséptico, com aquele falso moralismo estampado no rosto burilado numa agência de celebridades, com aquele jeito de sala de espera de dentista. É isso: a Xuxa é Chata. É o meu melhor slogan. Ela aponta o seu dedo mágico e a criança vira um chatinho na hora. Ainda não se descobriu o antídoto. Sim, eu detesto a Xuxa. Ela é a grande contribuição do Rio Grande do Sul para a cultura nacional depois da ditadura militar. É uma questão de imaginário patriótico. Os baixinhos têm a Xuxa. Os altinhos têm o Louro José. Os baixinhos têm o Harry Potter. Os altinhos têm o Paulo Coelho. Precisamos realmente lutar contra as drogas.

Madame Mim não enganava ninguém. Era bruxa e se apresentava como bruxa. Honestamente. Representava o mal como referência para o bem. A Xuxa é mais perigosa. Escapou de uma festa de Halloween. Faz de conta que é o bem. Bruxa a gente identifica pelos olhos. A Xuxa é o Lobo Mau disfarçado de vovozinha. Por que esta fúria toda contra a Xuxa? Ela é como aula de moral e cívica atrasada: uma tortura. Susan Boyle é mais talentosa e bonita. Repitam comigo: a Xuxa é chata e xoxa. Xô!