terça-feira, 25 de março de 2008

À Mui Leal e Valerosa!

À bela Porto Alegre, em seu aniversário, minha lembrança de uma das mais belas homenagens a essa terra.

Saúde, força e união!

+ * + * +



Porto Alegre é deiams
(José e Isabela Fogaça)

Porto Alegre é que tem
Um jeito legal
É lá que as gurias etc. e tal

Nas manhãs de domingo
Esperando o Gre-Nal
Passear pelo Brique
Num alto astral

Porto Alegre me faz
Tão Sentimental
Porto Alegre me dói
Não diga a ninguém
Porto Alegre me tem
Não leve a mal
A saudade é demais
É lá que eu vivo em paz

Quem dera eu pudesse
Ligar o rádio e ouvir
Uma nova canção
Do Kleiton/Kledir

Andar pelos bares
Nas noites de abril
Roubar de repente
Um beijo vadio

Porto Alegre me faz
Tão Sentimental
Porto Aegre me dói
Não diga a ninguém
Porto Alegre me tem
Não leve a mal
A saudade é demais
É lá que eu vivo em paz

Porto Alegre me dói
Não diga a ninguém
Porto Alegre me tem
Não leve a mal
A saudade é demais
É lá que eu vivo em paz

Porto Alegre é demais...!

domingo, 23 de março de 2008

Sobre a brevidade da vida

Certamente, miserável é a condição de todas as pessoas ocupadas, mas ainda mais miserável a daqueles que sobrecarregam a sua vida de cuidados que não são para si, esperando, para dormir, o sono dos outros, para comer, que outro tenha apetite, que caminham segundo o passo dos outros e que estão sob as ordens deles nas coisas que são as mais espontâneas de todas – amar e odiar. Se desejam saber quão breve é a sua vida, que calculem quão exígua é a parte que lhes toca.

(Lucius Annaeus Seneca, De brevitate vitae)

quarta-feira, 19 de março de 2008

Verão

A Praia
(Luiz vernando Veríssimo)

Chegou o verão e com ele também chegam os pedágios, os congestionamentos na estrada, os bichos geográficos no pé e a empregada cobrando hora-extra.

Verão também é sinônimo de pouca roupa e muito chifre, pouca cintura e muita gordura, pouco trabalho e muita micose.

Verão é picolé de Ki-suco no palito reciclado, é milho cozido na água da torneira, é coco verde aberto pra comer a gosminha branca. Verão é prisão de ventre de uma semana e pé inchado que não entra no tênis. Mas o principal, o ponto alto do verão é...a praia!! Ah, como é bela a praia! Os cachorros fazem cocô e as crianças pegam pra fazer coleção.

Os casais jogam frescobol e acertam a bolinha na cabeça das véias.

Os jovens de jet ski atropelam os surfistas, que por sua vez, miram a prancha pra abrir a cabeça dos banhistas.

O melhor programa pra quem vai à praia é chegar bem cedo, antes do sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e as famílias estao chegando. Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vinte cadeiras, três geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango, farofa, toalha, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão de férias.

Em menos de cinqüenta minutos, todos já estão instalados, besuntados e prontos pra enterrar a avó na areia.

E as crianças? Ah, que gracinha! Os bebês chorando de desidratação, as crianças pequenas se socando por uma conchinha do mar, os adolescentes ouvindo walkman enquanto dormem.

As mulheres também têm muita diversão na praia, como buscar o filho afogado e caminhar vinte quilômetros pra encontrar o outro pé do chinelo. Já os homens ficam com as tarefas mais chatas, como perfurar um poço pra fincar o cabo do guarda-sol. É mais fácil achar petróleo do que conseguir fazer o guarda-sol ficar em pé.

Mas tudo isso não conta, diante da alegria, da felicidade, da maravilha que é entrar no mar!Aquela água tão cristalina, que dá pra ver os cardumes de latinha de cerveja no fundo.

Aquela sensação de boiar na salmoura como um pepino em conserva.

Depois de um belo banho de mar, com o rego cheio de sal e a periquita cheia de areia, vem aquela vontade de fritar na chapa. A gente abre esteira velha, com cheiro de velório de bode, bota o chapéu, os óculos escuros puxa um ronco bacaninha. Isso é paz, isso é amor, isso é o absurdo do calor. Mas, claro, tudo tem seu lado bom.

E à noite o sol vai embora. Todo mundo volta pra casa tostado e vermelho como mortadela, toma banho e deixa o sabonete cheio de areia pro próximo. O shampoo acaba e a gente acaba lavando a cabeça com qualquer coisa, desde o creme de barbear até desinfetante de privada.

As toalhas, com aquele cheirinho de mofo que só a casa de praia oferece.

Aí, uma bela macarronada pra entupir o bucho e uma dormidinha na rede pra adquirir um bom torcicolo e ralar as costas queimadas.

O dia termina com uma boa rodada de tranca e uma briga em família.

Todo mundo vai dormir bêbado e emburrado, babando na fronha e torcendo, pra que na manhã seguinte, faça aquele sol e todo mundo possa se encontrar no mesmo inferno tropical... Qualquer semelhança com a vida real, é uma mera coincidência..``


+ * + * +

Adeus, verão. Encontro-o no próximo ano.

Saúde, força e união!

quinta-feira, 6 de março de 2008

Crônicas da menorréia: o intróito


Hoje pela manhã, falava trivialidades com uma amiga que muito estimo. Ao me contar suas novas, relatou-me que iniciara um blog e, empolgada, contou-me que colocou no ar um conto de fadas, com direito a príncipes e gatos brancos. Se não me engano, é isso (não pretendo conferir agora: estou escrevendo no trem e não há modo de me conectar à blogosfera agora).

Enfim, achei muito bonitinho. Sim, bonitinho, simpatiquinho, meiguinho, um amorzinho. Aliás, coisas de mulheres são sempre pequeninas. Só não gostam quando o orçamento do amorzinho (e outras coisinhas mais) são pequeninos. Que contra-senso, não?

Fiquei a pensar: mulheres gostam, em qualquer fase da vida, de contos de fadas, com direito a príncipe em cavalgadura, espada na bainha, beleza no rosto. Quanta fantasia! Por que isso?

Num rompante literário (ou, ao menos, num rompante de indignação), lanço aqui as Crônicas da Menorréia. Explico os porquês:

1. Contos de fadas são agradáveis, ideais e com pessoas bonitas, em peles alvas e olhos cintilantes. A vida não é assim: as princesas frígidas, os príncipes pobres, as montarias sem gasolina e sem capacete atentam contra o sonho. Eu ainda creio no poder da esperança: esperar um amigo que divide a sala de aula e que lhe saúda chamando de herdeiro da meretriz (e que você até sente falta dessas saudações, por mais incrível que pareça, quando não se pode dividir por um dia os saberes acadêmicos e as vicissitudes do respirar), fazer as refeições regulares com horas de atraso tão somente pelo prazer de encontrar a namorada (que está ansiosa para contar a cor de tinta de cabelo que comprou) ou comprar uma bala de goma de um menino pobre que venda na rua. Isso me torna um humano de verdade.

Nosso céu tem mais fumaça, nossas várzeas têm mais lixo, nossos bosques têm menos vida, e nossa vida, menos amores. Por quê? Porque não queremos amar a vida como é; queremos uma princesa estereotipada, e quando encontramos o que julgamos ser essa “princesa”, não nos vemos aptos a tocá-la. Como entender isso?

Creio que nossas princesas, hoje em dia, sentem cólicas, usam aparelho, preferem não usar óculos e ficarem apertando os olhos para ler, pintam os cabelos de grená e não ouvem mais orquestras de câmara em suas salas. Mesmo assim, há princesas: são seres encantadores, que queremos que brilhem do nosso lado, e que fariam tudo para serem felizes (inclusive ver como “príncipe” um barrigudo, feio, espinhento, mulherengo, vagabundo ou qualquer outro atributo que achemos desagradável). Com certeza, o beijo delas nos enobrece e nos tira da condição de anuro; mas não se iludam: depois de algum tempo, elas também começam a coaxar...!

2. Contos de fadas são representações do bem e do mal, e só há bem no casal e naqueles que contribuam para que fiquem juntos. Não vejo assim, e talvez considere exatamente o oposto: o que promove a distância pode muito bem ser motivo para aproximar. Só depende do casal estar disposto. Ou seja, dormir um pouco mais tarde para ficar no MSN, acordar mais cedo e despertar o amado com um toque de celular, arranjar a agenda para que possam fazer coisas juntos, tudo isso pode contribuir muito para se ter mais do que falar. Fofocas, discussões, briguinhas, quem não as têm? Felizes são os que as superam.

3. Contos de fadas obrigam o menino e a menina a ficarem juntos. Será que isso é sempre viável? Acho que vou escrever um “conto de bruxas”, contando exatamente o contrário: o príncipe chulezento e a princesa que ronca ao dormir vêem que serão felizes se amando, mas não necessariamente unidos pelos sagrados laços do matrimônio.

Às vezes, nosssas almas gêmeas são os parceiros etílicos, os colegas de trabalho e a pessoa que senta faz o supino no aparelho ao lado. Note-se: creio que a alma gêmea não é obrigatoriamente o reflexo da conjunção carnal. Bastam duas pessoas. É suficiente.

É isso. Aguardem as crônicas e os contos. Virão, prometo. Se eu não os escrever, certamente a vida se encarregará de contá-los.

+ * + * +

Aos meus reais amigos, a quem amo como irmãos, minha lembrança afetuosa. Aos de perto, prometo me dedicar a procurá-los mais; aos de longe, prometo nunca lembrar de vocês em minhas orações.

Saúde, força e união!

sábado, 1 de março de 2008

Essa tal isonomia...!


Já pensei seriamente em ser policial militar (brigadiano, como se diz no Rio Grande do Sul). Admito, não sonhei em participar de policiamento ostensivo, mas em ser oficial, usar paletó, sei lá. Acho interessante o trabalho desses homens que, com garra e dedicação (e propina, às vezes), defendem a população com bravura e destemor (e propina, às vezes).

Ontem, saí de casa à noite, em direção ao centro da capital dos gaúchos. No meio do caminho trilhado à pé, ouço a ordem “ô, magrão”. Fiz-me de desentendido: estava de mochila às costas (com meu bom e velho laptop), e não gostaria de vê-lo às mãos de um amigo do alheio. Como houve repetição da invocação, lancei olhar de soslaio de onde me chamavam: um carro, com quatro homens; em seguida, vi o letreiro “POE” na porta. “Mão para cima!” foi o imperativo; a inércia, minha reação. Não é muito comum para mim ser abordado pela polícia (embora já haja acontecido umas vezes, umas com a tradicional mochila).

Durante revista, creio que notaram minha “boa índole” e questionaram de onde vinha, e, incontinenti, dei minhas referências. Mostrei documentação: a Carteira da OAB! Fui chamado de Doutor, explicaram-me os procedimentos (que, particularmente, entendo e consinto; quem não deve, não teme) e me deram carona até meu destino!

Será que eles me tratariam assim se eu tivesse outro tom de pele ou estivesse mal vestido? Não sei, mas começo a desconfiar que todos somos iguais apenas perante a lei...

Saúde, força e união!