sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Imperativo anatômico

"Fulano só se preocupa
com o próprio umbigo!"
"Sicrano devia cuidar do seu nariz!"
Beltrano, no entanto, percebeu
que sempre que tentava olhar para o umbigo
surpreendia, em meio ao olhar vesgo
de quem mira um único ponto
a curta distância, o seu nariz.
Beltrano, então, virou filósofo
e famoso aforista.
Sua mais conhecida máxima sentencia:
"Aquele que presta atenção ao próprio umbigo
jamais perde de vista o seu nariz".

(Douglas Hugentobler Gimenis)
(Poemas no ônibus - edição 2010)

terça-feira, 10 de maio de 2011

Minha (nada mole) vida de judoca

Enquanto escuto Bolshoi cantar Sunday Morning e como um caqui para engambelar o estômago, rio de mim mesmo, e rio por ser pouco mais que uma criança. Rio porque embesto em fazer algumas coisas as quais não faço a menor ideia da razão para fazê-las. Rio porque consigo me subjugar pelos meus pensamentos conjuncturantes. Mas rio, sobretudo, porque é a única maneira de provar para mim mesmo que ainda sou humano, simples e demasiadamente humano.

Tudo começa com uma lista feita em março, em que coloco minhas prioridades para aquele mês, bem como até o fim do 1º e 2º semestres do ano em curso. Minha lista, mesmo que factível, era um pouco pretensiosa, admito. Mas a meta que mais me diverta era a que mantinha haver com meu corpo: em março, começaria a academia, em fim de junho, estaria em forma, e no fim do ano, estaria com uma barriga boa para usar como tanquinho. Sim, tenho de rir dessa meta, pois detesto toda e qualquer atividade física, mesmo as que não conheço.

Para cumprir minha meta, comecei a academia. Odiei, como sempre. Odeio aquele clima de músculos saltando e conversas padrão "bah, minha, que tríceps irado". Previsivelmente, como sói, desisti. E quando estava quase me conformando a ser um barrigudinho sedentário, ocorreu-me de fazer uma arte marcial, e o judô me saltou à lembrança. Lembrei que, a despeito do contato físico, o principal objetivo dos combates é imobilizar, não arrebentar a cara do oponente. Em assim sendo, já havia traçado minhas escolhas.

Procurei informações no site do meu clube, a Sogipa; ao ligar para lá, a telefonista, para me dar informações sobre a "escolinha de judô", perguntou a idade do "aluninho", ocasião em que, deveras encabulado, contentei-me em dizer "é um adulto". Desde esse primeiro contato, senti-me um adulto medroso numa aula de natação para crianças, com direito a espaguete e boias para aprendizes desastrados.

Fui assistir a uma aula. Cheguei um pouco mais cedo, enquanto acontecia a aula das crianças, e fiquei observando os exercícios. Achei muito legal, mas demorou para eu me dar conta que, ASAP, eu os estaria fazendo. Tive de rir de mim mesmo, que sempre teve horror de cair durante as peladas de escola. O professor, gente finíssima, deu-me todo o apoio. Em assim sendo, motivado, resolvi encarar o desafio.

Ontem, saí para comprar o judogi, traje para o judô. Não fazia sequer ideia de onde comprar isso. Já estava afim até de perguntar numa loja de ternos e roupas masculinas para saber se tinham; consegui uma boa informação e para lá me enveredei. Comprei o mais chinfrim: na pior das hipóteses, se não gostar do esporte, já tenho um pijama maneiro para usar em casa.

Hoje, lembrei da importância de um chinelo para usar para chegar ao local da aula. Como não tenho Havaianas, senti-me no dever de comprar um par. O problema é que eu ODEIO chinelos de dedo. NUNCA tive chinelos de dedo. Lembro-me de um que minha mãe me fazia usar a muito contra-gosto, para tomar banho, e até para isso eu odiava - e eu contava com uns 5 anos de idade à época. Sou um pobre soberbo, como diz Misinho. Enfim, saí para comprar e não achava a porqueira: mesmo sendo sensação hoje em dia (pois sou do tempo em que Havaianas era para chinelão), não achei em 5 lojas de calçados. Comprei nas Americanas, por $14,99 - e pedi desconto, para não perder o hábito, e principalmente porque eu queria pagar o mínimo possível por algo que eu não gosto.

Fiz a matrícula e fui ao vestiário. Odeio vestiários. Odeio falta de privacidade para minha nudez. Não gosto. Chamem-me de fresco, mas não gosto desse clima. Não comecei bem. Coloquei o judogi (que já havia colocado em casa e me sentira o Kung Fu Panda - gordo e com um pijama estranho), peguei a chinela e, para gáudio deste que escreve, constatei que havia alguma coisa errada: estava sobrando muito calcanhar ao final da sola da imundície. Sentei na arquibancada ao lado do dojô, aguardando minha hora e encafifado com a birosca de calçado bem menor que meu pé. Como não sou experiente no assunto "chinelos de dedo", fiquei cuidando os chinelos dos outros e verifiquei que o meu era muito menor. Até que, mesmo sem óculos, resolvi esforçar as vistas para provar para mim mesmo que comprara a tranqueira com o número errado, e me dei conta do porquê: eu vi o número ali traçado como 39/40, e não me dei conta que esse era a numeração EUROPEIA - à brasileira, equivale a 37/38. Moral: já me sentia um idiota, vestido como um idiota e com um calçado como meu pé. Me senti a real mistura das meio-irmãs da Gata Borralheira com o rei que estava pseudo-vestido.

Depois que a aula começou, tudo mudou. Senti-me super bem. Corri, comecei a aprender a fazer os rolamentos - que nada são que bater a mão com estilo no tatame. Ainda que não haja ainda conseguido fazer uma das piruetas - aquela que os caras da SWAT fazem no capô dos carros nos filmes -, acho que já valeu a pena.

Estou sentindo um pouquinho as pernas, os braços, o peito e o pescoço. Um leve rubor de atividade física ainda me está às faces, e um banho se faz conveniente nesse instante. Mas estou com o sorriso à boca, provando-me que sou humano, simples e demasiadamente humano. E que é bom. Sinto-me risonho, risonho e dançante, sem espírito de peso, quedado delicadamente no devir. Acho que estou no espírito da coisa: "judô" (柔道) quer dizer "caminho suave" ou "caminho da suavidade" em japonês. Ao que parece, desse vez dei uma bola dentro - ou um ippon.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O fim do habeas corpus?

O remédio constitucional para manutenção da liberdade está longe de ser extinto do nosso país, e o povo gaúcho o sabe muito bem. Não está em xeque o instituto jurídico, mas seu nome: o Deputado Estadual Raul Carrion (PC do B), querendo “nacionalizar” o vocabulário dos sul-rio-grandenses, propõe a desestimulação do uso de palavras que não as da língua portuguesa, forçando por lei, àqueles que as desejar empregar, que aponham em conjunto sua respectiva tradução. Será que é disso que precisamos?

Pela nossa Lei Maior, o português é o idioma oficial do Brasil; nisso, ao que parece, não há dúvidas nem diatribes. Todavia, cada vez estamos mais inseridos em uma sociedade que supera fronteiras e que encontra na diversidade a solução para suas necessidades. Por esse motivo, que não é reles detalhe, somos impelidos a esgarçar nosso rol de expressões a uma enormidade de línguas, fora as exigências das mais diversas do nosso cotidiano que nos conduz ao aprendizado efetivo de outras gramáticas – negócios, estudos, lazer e, por que não dizer, nosso interesse em superar barreiras e desbravar horizontes.

Muito mais que um romantismo anacrônico, a comunicação é ferramenta primordial ao convívio do ser humano, e é seu manejo que a perfectibiliza; não apoio com isso um uso desregrado ou descuidado da escrita ou da conversação, mas um uso que se preste à finalidade ao qual se destina. Ao permearmos nossa rotina com palavras em inglês, espanhol, francês, latim ou quaisquer outros idiomas, antigos ou modernos, fazemo-lo não para diminuir o vernáculo brasiliano, mas para melhorar um diálogo que nele não seria tão intenso – e, nessa arte, os publicitários parecem ser os expertos, tangendo nossos afetos com a precisão conveniente para despertar nosso interesse àquilo que lhes é mister.

De mais a mais, afugentar estrangeirismos é isolar, enquanto nosso movimento agora é de incluir e de sermos incluídos. Esquecer forçosamente outros idiomas é pregar uma superioridade que apequena a nós mesmos, que temos amalgamadas em nossa própria pele tantas diferenças quantas imagináveis. Espero sinceramente que tal ideia não siga adiante; do contrário, o quadricentenário habeas corpus será compelido a ser chamado no Rio Grande do Sul pela insípida alcunha mandado de liberdade.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Meio ambiente é o ...alho

Esses pessoal da ecologia, do meio ambiente, salve as baleias, são uns chatos. Eles quer impedir o pogresso do município. Querem acabar com o turismo, com o comércio. Querem que a cidade fique sempre pequena. Mas eu vou passar por cima deles tudo. Eu posso até não ser uma pessoa instruída, mas nasci aqui, conheço todas as família. Por isso que eu já fui prefeito cinco vezes e ainda vou ser mais. Ano que vem, entra meu filho que eu já tô no segundo mandato. Mas depois eu volto.

Já expliquei tudo pro Junior. Primeiro, vâmo acabar com essa lei de prédio com menos de três andar. Antes, até dava. Mas o turismo tá crescendo, cada vez vem mais veranista pra passar o verão e a gente tem que agüentar receber todo mundo. Se não fosse esses pessoal que ficaram enchendo o saco pra tombar os morro, a gente dava um jeito de facilitar as construtora pra fazer mais uns condomínio. Mas agora só dá pra crescer pra cima. Versiti, verfiqui... vestiliza... verti... Porra, crescer pra cima, fazer prédios mais alto. A culpa é desse pessoal da USP que vem pra cá botar coisa na cabeça dos pessoal, dessa turma daqui que é inguinorante que nem eu, só que fica falando esses negócio de meio ambiente, projeto de tartaruga, núcleo sei lá do quê. Núcleo é o caralho. Eu quero lá saber de tartaruga?

Eu quero ver é o dinheiro dos turista entrando, o comércio vendendo bem na temporada. Mas esses pessoal fica lá perturbando. Não pode som alto de noite, não pode treiler na praia, não pode carro entrar nas cachoeira. E os barzinho de noite? Como é que fica? Os turista gosta de música, de ouvir MPB ao vivo e beber cerveja. Aí esses pessoal verde não quer deixar. Só que eles vão ver que quem manda nessa porra é eu. Vou botar a guarda municipal, que foi eu que inventou, pra tomar conta das construção dos prédio novo. E se vier meio ambiente, eu mando atirar. Se o povo votou ni mim, é porque eles apóia os meus projeto. Na Câmara não tem pobrema. Os vereador tá tudo comigo. Sou eu que pago eles, caralho. Eles tudo vai votar na lei que deixa construir os prédio. Depois não pode mais mudar. Vai ser lei municipal.

Mas esses pessoal da ecologia não desiste, e pode reparar: esses pessoal da ecologia é os mesmos que nadam pelado na praia, que usam tóxico. Eles é que agride as família do município, eles é que fica com AIDS espalhando pra todo mundo com esse negócio de homossexual. Pra mim, esse negócio de homossexual é todos viados. Construir condomínio nos morro não pode porque é do governo federal que não quer nem saber dos município. Mas construir prédio alto é da Prefeitura e dos vereador. E eu vou construir mesmo, já até abri umas concorrência das empreiteira. Agora também não pode escolher quem vai fazer as obra. Tem que abrir concorrência. Eu até preferia que as firma particular fizesse as obra, mas elas ficam com medo desses pessoal da ecologia, do meio ambiente.

Só que eu não vou desistir, não. Vou fazer as obra com os recurso do município. Depois, quando os turista trouxer bastante dinheiro, todo mundo vai me agradecer, até o meio ambiente quando tiver ganhando dinheiro. São esses pessoal que vedem sanduíche na praia. Sanduíche natural, essas coisa de homossexual. E se os turista não vier, eles também não vende e fica tudo com AIDS, lá na Santa Casa, pedindo os coquetel que o Governo Federal manda. A Santa Casa tá lá, cheia de homossexual. Não tem nem espaço pras família direitas. Antigamente só tinha um homossexual, que era o Eunápio, que nem era homossexual mesmo, era só bicha. O Eunápio servia porque ele fazia os concurso de miss, o carnaval, essas coisa de cultural. Agora tá cheio de homossexual viado pelas rua, abrindo salão de cabeleleiro. Junta tudo, os pessoal do meio ambiente, os pessoal da USP, os pessoal dos surfista, os viado e até os aluno do colégio. Vão tudo lá fazer passeata de bagunça só pra atrasar o pogresso.

Eles acha que são moderno, mas eles é é muito atrasado. Moderno é os prédio alto. Moderno é os turista que traz dinheiro pro município. Moderno é as obra que eu tô tocando pra fazer os estacionamento pros carro dos turista.

Esses pessoal do meio ambiente fala que eu sou ladrão, mas é tudo mentira. Eu tenho os meu terreno, as minha imobiliária, os meus posto de gasolina, os meus bares. Não preciso ficar roubando nada, porque eu já sou rico. E o povo sabe disso, por isso é que sempre votam ni mim. É só vender uns terreno, uns apartamento pros turista, que eu já ganho dinheiro. Esses pessoal do meio ambiente gosta é de tumultuar. Eles fica tentando fazer impiche comigo, mas não adianta porque os vereador é tudo meu e os juiz também e eles sabe que eu não roubo, que eu só quero o pogresso do município.

Qualquer hora, eles vão me encher tanto, que aí eu não me candidato mais. Aí o município vai ficar tudo com esses pessoal homossexual do meio ambiente. Aí não vai vim mais turista e vai ficar todo mundo com uma mão na frente e outra atrás, cheio de tartaruga do núcleo dos pessoal da ecologia. Aí é que eu quero ver. Porque esses pessoal é muito chato. Não pode matar tartaruga, não pode matar lagosta, não pode matar até uns tipo de peixe com ova. Quando eu não querer mais ser prefeito, até os índio vão voltar. Vai ficar todo mundo atrasado que nem índio, que fica dormindo lá no coreto da praça e a gente não pode nem mandar a polícia pra jogar creolina neles pra eles ir embora. Os pessoal da ecologia também tem essa mania de índio. Eles nem sabe que eu dei uns terreno que eu tinha pros índio fazer aldeia e não ficar na praça vendendo cesto e pedindo dinheiro, enchendo o saco dos turista.

Só que esse negócio de meio ambiente é só moda desses pessoal da ecologia. Depois que a moda passar, vocês vão ver, vai tudo ficar do meu lado de novo, porque eles sabe que eu sou bom pro município, que eu é que faço o pogresso, que deixo os pessoal construir as coisas deles sem mandar fiscal da prefeitura pra ver se as planta estão certa. Eu é que quebro o galho dos pessoal que quer abrir os treiler na praia sem banheiro. Eu é que deixo os pescador pescar lagosta, tartaruga, essas coisa que o meio ambiente não deixa. Se não fosse eu, ia ter até onça no município. Ia ter até trombadinha, que eu boto no ônibus e mando pra longe. Se não fosse eu, o meio ambiente já tinha tomado conta de tudo.

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Da minha revista preferida, a Piauí, pela picardia e perspicácia. Tirei daqui.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Desgrazia poca é bobazem!

Alôôô, gurrizada! Oggi vômo propor um desafio aos especialistas e cozinheiros da rezion. Como tutti sabem, a arte culinária quá é molto desenvolvida e temos vários expoentes di questa arte espalhados pelas cozinhas per aí. Questa zente zá inventou pratos maravigliosos e encantou convidados com mangiares dos deuses.

Agora, o desafio! E os pratos que non deram certo?! Os rotundos fiascos. Non acredito que, quem é metido a inventor na cozinha nunca tenha feito una barbárie gastronômica. O tal prato experimental é sempre um contrato de risco e pode desandar como una maionese. Oggi vou dar algunas receitas que non devem ser feitas e desafio os especialistas a darem também as suas.

Vômos em frente e que Dio tenha piedade di nostros convidados.

O mais recente fiasco gastronômico foi um desastre com ingredientes requintados: spaghetti com mollho di yogurte, hortelã e camarón. O nome é pomposo, mas o resultado foi quase una trazédia. O spaghetti é tão simples e buono di comer que um filete di azeite di oliva e um buon parmezon ralado fazem um acompanhamento molto agradável. Pertanto, erar um spaghetti é una proeza. Ponha água bastante para cozinhar o spaghetti. Para o molho rale uma cebola e, zá que vai dá tutto erado, rale um pedaço do dedo também. A cebola vai pro fogo com um pouco de manteiga. Pra altra parte do fiasco pegue um pote di yogurte natural, colha unas vinte folha de hortelã no quintal e bata num liquidificador. Reserve. Espere a cebola fritar e zogue o yogurte com a cebola. Vai ficar una bosta perché o leite vai se separar do soro. O cheiro agradável ainda engana e dá esperança que saia algo que preste. Ledo engano. Pra coroar o prato, coloque uns camarón no molho aguado-leitoso e cozinhe. Escora o spaghetti e coloque questo pseudomolho em cima. O molho aguado irá todo pro fundo e o spaghetti ficará brancon por cima. Non se dê por vencido. Coloque um queizo ralado por cima e leve pra mesa. Tente pescar os camarón, zunto com o que se convencionou chamar di molho. Lembra um pouco pasta de dente com água di côco. O camarón dá un toque todo especial.

Altra receita imperdível é o galeto miserável do Nôno. Questo é bastante simples e non requer prática. Os ingredientes son os mesmos do nostro tradicional galeto. O detalhe é o modo de fazer. Aprenda com o Nôno. Primeiro, por causa do tal do colesterol, coloque pouco sal. O vinho, por causa do colesterol, beba quase tutto e ponha só o restinho que sobrou zunto com a sálvia. Toucinho entre um pedaço e altro nem pensar, por causa do colesterol, zá disse. Faça um fogo com pouca lenha ou carvon, por causa do preço. Aí está o secreto. Por ter pouco fogo, asse o galeto lá embaisso. Ele ficarrá torado por drento. Sem sal. Sirva e aguarde os comentários.

Pra encerá, a receita di trutas à Joelma. A receita é simples também. Os ingredientes son 10 trutas, sal, limon e dois engradados di cerveza. Faça bastante fogo e coloque as cerveza prá zelar. Tempere as trutas com sal e limon e ponha no fogo. Com o seu parceiro, trate di tomar as cervezas e esqueça as trutas. Quando elas estiverem transformadas em um carvón tente servir. Raspe a parte carbonizada e sirva o que se salvou. Non é molto. Por isso, abra altra cerveza pra aguentar o olhar dos que esperavam a zanta.

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Receita brilhantemente escrita pelo Radicci em sotacón (sotacón é a transposição da fonética para a grafia do "zeito" que as pessoas da Serra Gaúcha falam. Não é português, não é italiano, não é dialeto, é uma nova língua, o sotacón). Copiei daqui.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Gincana pessoal

Tenho sofrido seriamente com a procrastinação. Sinceramente, acho que só ganha com isso aquele que é pago por hora. De mais a mais, todos perdem.

Sim, ando procrastinando - inclusive agora, para blogar. Acho odioso esse sentimento de remorso, e esse sentimento só se dá por minha culpa, minha máxima culpa. "Empurrar com a barriga" uma tarefa importante é uma atitude parecida com comer vegetais quando se é criança: não é bom, mas é necessário fazê-la, ainda que não se goste. A fórmula para solução de ambos os casos é simples e minha mãe já me dizia: "mistura o gostoso com o que não gostas".

Ando precisando aprender a misturar os aromas da rotina, e acho que tive o empurrão: D. Hadassa me desafiou a colocar todas as pendências em dia até o Carnaval, tendo como prêmio um descanso completo e irrestrito nesses dias. Para mim, descanso e lazer andam de mãos dadas, o que me incluirá cinema, Ribs On The Barbie e hambúrguer no Joe & Leo's; ainda, vale dizer que adoro desafios, o que me é um baita estímulo a comer bem e gastar as fatigadas retinas no desfrute da sétima arte.

Sendo assim, ao que parece, estou numa gincana, e minha adversária é a procrastinação. Só preciso dar um chega-pra-lá na malvada e tocar a vida; se eu seguir a fórmula maternal, nem preciso fazer de uma vez tudo o que não gosto, bastando-me ir alternando coisas agradáveis com outras nem tanto. Será que dessa vez vai?

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ânsia

Desde sempre, odiei vomitar. A sensação pós-embrulho estomacal sempre me causou pavor. Era uma violação do meu corpo pelo meu corpo, algo insuportável para mim, de sorte que, ao menor sinal prenunciando a pirotecnia estomacal, já me via aborrecido.

Foi assim que conheci a palavra "ânsia", sempre associada a vômito. Ânsia - ou, melhor, "ânsia de vômito" -, por seu caráter, era algo que me era por natureza indesejável; como meu corpo me domina(va) nesse tipo de caso, pouco me resta(va) senão descomer.

Pela minha primeira impressão com o vocábulo, sempre odiei a ânsia. Ânsia e desejo estão diametralmente opostos no meu psiquismo: uma coisa é estar desejoso e, por conta disso, animado; outra costrastantemente diferente é estar ansioso. Odeio a ânsia - ao menos, a ânsia que entrecruza sua história comigo.

Acho que ando ansioso. Sei que tenho algumas tarefas que estou a procrastinar há algum bom tempo. Se não bastasse tê-las, preciso pô-las para fora. Não gosto de ter tarefas inconclusas. Não gosto de realizar tarefas das quais eu não goste, no que imagino não diferir da humanidade. Tenho há meses a nítida impressão de que, ao me desvencilhar dessas pedras em meu caminho, viverei algo tão doloroso quanto mantê-las em aberto. Mas preciso me desvencilhar. E agora?

Acho que "ânsia" está muito próxima, para mim, de "agonia" - que, mais que sofrimento, é uma incapacidade de criar algo. Pois é. Agoniado ou ansioso, é assim que estou.

Espero que a próxima semana me ajude: estou saindo de férias. Lá, pretendo escrever o que preciso, ler o que preciso, fazer o que preciso. O problema é que serão apenas meia dúzia de dias - literalmente, no que é a expectativa mais provável. Moral: férias, de verdade, é possível que não. Mas eu preciso acabar com essa ânsia agoniosa que me consome, essa pedra no meio do meu caminho.

Coragem, meu Deus, coragem. Força para mudar, serenidade para aceitar e sabedoria para diferenciar. So help me God.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Blog abandonado

Sim, eu sei: meu blog está às traças. Confesso: nos últimos tempos, sequer lembro dele. Ando colocando de tudo no Twitter, mas nada de substancioso. Talvez seja por isso: ando superficial demais para escrever em mais de 140 caracteres.

Já tive momentos áureos: postei músicas, escrevi reclamações, comentei minha incipiente vida de operador jurídico. Tentei inclusive escrever sobre a correria do casamento. Mas nada consegui tocar adiante. Vai ver que é porque não ando com a alma preparada para discorrer sobre mim mesmo.

Casei, terminei as aulas do Mestrado, engordei (mais um pouco), estou advogando firme numa sala (atender em casa é um saco e, aconselho, deve ser apenas para remediar uma situação bem urgente). Estou atolado de textos do Mestrado para escrever, fora o projeto de dissertação e a própria dissertação. Pretendo e preciso participar de eventos. Quero lecionar as soon as possible. Preciso passar 24 camisas, segundo meu último levantamento, e há mais outras outras para lavar. Preciso ainda arrumar a casa. Preciso encontrar amigos, ir ao cinema, ler por hedonismo. E, talvez o principal desses últimos dias, escrever por hedonismo.

Olá, meu blog. Por incrível que possa parecer, ainda sou teu dono.

Não sei se ainda terei os leitores de outrora. Não sei eu eu lerei o que escreverei. Não sei sequer se escreverei. Acho, contudo, que poderia escrever. Que deveria.

Projetos, planos, metas. Muita coisa. O mundo passando, e o meu eu, ficando tergiversado. Acho que meu blog já foi um pedaço de mim. Acho que é por isso que estou voltando a escrever: para recuperar um pouco do meu eu que ficou abafado pela metodologia, jurisprudência e uma série de coisas que, apesar de exteriorizarem o que faço, não mostram realmente quem sou.

Blog abandonado, perdoa-me. Ainda gosto de ti.

Voltarei a escrever. Não papa amealhar leitores - até porque nunca os tive às pencas. Voltarei a escrever porque me amo, porque quero me amar, porque quero manter o juízo da pessoa em ordem. Ok, já sou um mestrando, um advogado, um músico, um marido. Preciso voltar a ser um Samuel.

Olá, meu blog. Tu te sentes meio solitário nesse mundo de tantos blogs e coisas do gênero? Eu também me sinto assim no meio de tanta gente. A maior solidão é na profusão de iguais, quando tu não passas de um ente dentre tantos outros - como ouvi numa aula de Introdução à Filosofia. Se tu te sentes assim, estás como eu me sinto. E, se for assim, ainda és o meu reflexo, minha imagem e semelhança.

Reiniciar: tarefa difícil. Manter a inércia é fácil - seja em repouso, seja em MRU; difícil é começar a acelerar para chegar a algum lugar. É isso que eu quero: acelerar.

Ainda estou devagar, mas meu ímpeto está forte. Acho que era disso que eu estava precisando.