quarta-feira, 20 de abril de 2011

O fim do habeas corpus?

O remédio constitucional para manutenção da liberdade está longe de ser extinto do nosso país, e o povo gaúcho o sabe muito bem. Não está em xeque o instituto jurídico, mas seu nome: o Deputado Estadual Raul Carrion (PC do B), querendo “nacionalizar” o vocabulário dos sul-rio-grandenses, propõe a desestimulação do uso de palavras que não as da língua portuguesa, forçando por lei, àqueles que as desejar empregar, que aponham em conjunto sua respectiva tradução. Será que é disso que precisamos?

Pela nossa Lei Maior, o português é o idioma oficial do Brasil; nisso, ao que parece, não há dúvidas nem diatribes. Todavia, cada vez estamos mais inseridos em uma sociedade que supera fronteiras e que encontra na diversidade a solução para suas necessidades. Por esse motivo, que não é reles detalhe, somos impelidos a esgarçar nosso rol de expressões a uma enormidade de línguas, fora as exigências das mais diversas do nosso cotidiano que nos conduz ao aprendizado efetivo de outras gramáticas – negócios, estudos, lazer e, por que não dizer, nosso interesse em superar barreiras e desbravar horizontes.

Muito mais que um romantismo anacrônico, a comunicação é ferramenta primordial ao convívio do ser humano, e é seu manejo que a perfectibiliza; não apoio com isso um uso desregrado ou descuidado da escrita ou da conversação, mas um uso que se preste à finalidade ao qual se destina. Ao permearmos nossa rotina com palavras em inglês, espanhol, francês, latim ou quaisquer outros idiomas, antigos ou modernos, fazemo-lo não para diminuir o vernáculo brasiliano, mas para melhorar um diálogo que nele não seria tão intenso – e, nessa arte, os publicitários parecem ser os expertos, tangendo nossos afetos com a precisão conveniente para despertar nosso interesse àquilo que lhes é mister.

De mais a mais, afugentar estrangeirismos é isolar, enquanto nosso movimento agora é de incluir e de sermos incluídos. Esquecer forçosamente outros idiomas é pregar uma superioridade que apequena a nós mesmos, que temos amalgamadas em nossa própria pele tantas diferenças quantas imagináveis. Espero sinceramente que tal ideia não siga adiante; do contrário, o quadricentenário habeas corpus será compelido a ser chamado no Rio Grande do Sul pela insípida alcunha mandado de liberdade.