domingo, 9 de dezembro de 2007

Interregno

O vento bate nas madeixas. O medo ainda leva o homem a titubear. A angústia não deixa retornar. O sol castiga as retinas e fustiga a testa, sendo ali, por si só, a penúria.

O desespero de dívidas, a decepção no mundo, a dor da solidão. Tudo isso o empurrava para a ponta. Os chinelos, outrora confortáveis, eram agora pesados e inconvenientes. Não se quedava mais sossegado, e quaisquer atos ou circunstâncias que assim se lhes representasse era reputado por espúrio.

Da fé, estava decepcionado; essa família, que cria no superior, era-lhe medíocre, tacanha, e sequer o considerava. Num ostracismo indesejado, isolado de um amor fraterno, via-se inexpressivo. O grande e poderoso Dr. Sílvio Antônio da Costa, imponente perante os demais, é frágil perante si mesmo.

Suas dívidas, embora plenamente pagáveis, não lhes interessa. Numa apatia latente, a vida já soçobrou nas procelas da rotina. O castigo de Sísifo já lhe era realidade. Não queria isso. Queria mais. Queria tudo. Queria muito pouco. Queria apenas ser alguém.

Se Deus não existe, então tudo é possível. Seria mesmo? Lembrar do ensino secundário, das filosofias, das crenças, das diferenças, dos esforços de conciliar fé e razão, desse duplipensar inglório e que pouco lhe adiantou nos momentos de maior agonia.

Nada mais interessa. Agora, só uma coisa atrapalha: um gradil, que lhe tocava a cintura. A gravata, vermelha como um lenço maragato, apenas representava a degola que já sentia desde há muito. Já era um morto, e, se nunca havia pensado nisso, dava-se conta naquele instante.

Despiu-se da formalidade rubra; aquele nó, tão corrediço quanto o de uma forca, não mais o prenderia. Seria livre pelas próprias vias. Nem clientes impessoais, nem amigos que não tinha, nem família distante, nem a imagem do Deus medieval que lhe foi ensinada na tenra infância, nada mais o acompanharia. Faria um trajeto curto, mas só. Um único, para não mais voltar.

Eis o que queria: não ser mais ser um errante, nem o que viria a aparecer na folha policial, mas já que estava só, só queria estar, rumando ao infinito.

Abriu os braços. A brisa mais uma vez lhe roçou as poucas melenas. O zunido no colarinho agora desabotoado lhe incomodou. Chega de demora. Sou homem ou não sou? E tergiversou à rua, para não encarar seu futuro, jogando-se de costas edifício abaixo.

Lembrou de uma vez que se jogou de um balanço, quando menino. Não assistiu ao filme a que relembram os que batem às portas da morte. Despencava, numa taquicardia sufocante, mas ao encontro do que queria.

O fim não chegava, e já se irritava. Imaginava que sua queda não iria terminar, e não terminava mesmo. Nada mais fazia, nem criava, nem destruía. Apenas aguardava sua única solução.

Será que terminaria logo? Não agüentava mais. Ansioso, não via mais o fim de mais um tormento. Será que resolveria?

Cansou-se de mais um penar. Meteu os pés no sapato e saiu. “Droga de vida”, pensou. “Se ela é ruim, a morte também não tem virtudes”, e cansado de pensar, saiu mais um dia para a dura labuta.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

OAB, aí vou eu!




Recebi, em 20 p.p., a identidade de Estagiário de Advogado da Ordem dos Advogados do Brasil, conselho seccional do Rio Grande do Sul. Não pretendia divulgar a foto, mas prometi ao Pr. Wagner Araújo que assim faria (a rogo dele).

Acompanhei, durante esse semestre, algumas audiências nos Foros Central e Regional do Quarto Distrito. Apaixonei-me com o clima, a atividade, a forma cordata com que os nobres operadores do Direito se conduzem... Quero ser um operador do Direito! É uma tarefa complicada, admito; todavia, alguém deve fazê-la, e creio poder contribuir nesse mister.

A todos aqueles que estão torcendo por mim, meu reconhecimento e gratidão. Dentro em breve, convidarei-os para um cafezinho no meu escritório. Enquanto isso, se alguém quiser ir a uma cafeteria comigo, não ficarei nada triste!

Saúde, força e união!

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Contigo Aprendí

Contigo aprendi
que existen nuevas y mejores emociones
Contigo aprendi a conocer un mundo nuevo de ilusiones
Aprendi
que la semana tiene mas de siete dias
a hacer mayores mis contadas alegrias
y a ser dichoso yo contigo lo aprendi.

Contigo aprendi
a ver la luz del otro lado de la luna
Contigo aprendi
que tu presencia no la cambio por ninguna
Aprendi
que puede un beso ser mas dulce y mas profundo
que puedo irme manana mismo de este mundo
Las cosas buenas ya contigo las vivi
y contigo aprendi que yo naci el dia que te conoci

(Nelson Ned)

+ * + * +

Àquela, cujo perfume adoça minha vida, meu sentimento: amo-a!

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Encontro de cúpula

Já não era sem tempo. Deus convocou um encontro de cúpula com Luiz Inácio e Hugo Chávez. O venezuelano impôs uma condição para comparecer: a ausência do rei Juan Carlos. Luiz Inácio pediu que Deus admitisse ser brasileiro e que nunca na história da humanidade um presidente foi tão abençoado. Para evitar maiores altercações, embora aborrecido, Deus concordou. O problema maior foi o local da reunião. Deus queria um campo neutro. Sugeriu a Argentina. Os jornais de Buenos Aires deram manchetes: Deus propõe encontro no céu. Não houve acordo. Luiz Inácio preferia São Bernardo para aproveitar o fim de semana em casa e ainda poder ver o jogo do Corinthians contra o Grêmio na TV. Chávez sugeriu dois lugares purificados para o debate: Cuba ou Bolívia. Alegou que Fidel Castro estaria precisando de uma conversa com Deus para decidir o seu futuro. De Deus.

Um tanto desinformado sobre a política latino-americana, Deus cometeu uma séria gafe: defendeu, na falta de outra opção, a realização do encontro em Miami, com a participação de Bush, bom devoto, filho apegado ao legado do pai e cidadão do mundo. Indignado, Chávez aproveitou para soltar a frase bolivariana que trazia atravessada na garganta: 'Por que não te calas?' Deus não gostou. Ameaçou retirar-se antes mesmo do encontro se realizar. Chávez não se deu por achado e lançou um desafio ao Ser Supremo: 'Por que não convocas um plebiscito, como eu, para ver se a população mundial quer te manter no poder?'. Luiz Inácio apenas sorria. Ao ser entrevistado sobre as conseqüência do bate-boca do parceiro Chávez com Deus, tratou de minimizar o ocorrido: 'Deus está exagerando. Chávez não fez por mal. Ele é como o time do Corinthians: não suporta pressão'.

Em determinado momento, Deus pediu uma conversa reservada com Luiz Inácio. O presidente quebrou o protocolo e aceitou falar com Deus sem marcar audiência ou verificar a sua agenda. Para quebrar o gelo, Luiz Inácio foi logo brincando: 'O Senhor é que é feliz, meu Deus, nunca precisa mudar a Constituição para renovar o mandato. Eu também queria um mandato único, né mesmo?' Deus apresentou-lhe alguns dados que, segundo os assessores divinos, o faziam ficar de queixo caído: 12,6 milhões de brasileiros continuam miseráveis, a renda média familiar do Nordeste não alcança 60 reais por pessoa, o Bolsa-Família paga no máximo R$ 112,00 por mês, outros 30 milhões de brasileiros vivem pouco acima da linha da miséria, etc. Luiz Inácio não gostou muito. Alegou que só podia ser intriga da Veja.

Ao final, Luiz Inácio propôs uma aliança estratégica: em troca de algumas sugestões suas no sentido de melhorar a política humanitária de Deus 'a nível' global, o Todo-Poderoso garantiria a transformação da CPMF em contribuição permanente. Se não desse, poderia ser provisória mesmo, coincidindo com o tempo de permanência de Deus no comando. Por fim, depois de agradecer pelas novas jazidas de petróleo, com seu velho bom humor verde-amarelo, Luiz Inácio falou assim: 'Agora, Deus meu, passemos às coisas sérias, que ninguém é de ferro: o senhor não vai deixar o Corinthians cair, né mesmo? Pense no sofrimento do seu povo.' Deus não respondeu. Foi chamado ao telefone. Era Juan Carlos querendo alertá-lo para não andar em má companhia. Chávez, disse o rei, é o Diabo em pessoa.

(Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo, em 23/11/2007)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Tempos idos

Se devo escrever sobre saudade, escrevo; mas do que posso sentir saudade nesse momento? Em fins de semestre, com toda a sofreguidão a que nos afadiga, há espaço para escrever sobre “saudade”?

O que é, pois, saudade? Palavra triste quando se perde um grande amor, diria certa música; presença da ausência, diria outra. Para o filólogo, não passa de um pesar pela ausência de alguém. E para mim, o que representa tal vocábulo, tão impreciso quanto outros, como “muito” e “pouco”? Estou prestes a crer que a saudade é uma lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave. Lembrança de pessoas, de coisas, de momentos, distantes e extintos (quer seja pela poeira do tempo, quer seja pela poeira da vida), lembrança acompanhada do desejo de vê-las, de possuí-las, de tocá-las novamente; uma força lânguida que nos quer aproximar e não impede de afastar daquilo que se quer bem.

Se, hoje, nesse exato instante, eu precisasse dizer do que sinto saudade, diria que é de um momento: do momento em que eu podia viver e desfrutar das coisas que me davam prazer (esclareço: algumas delas, se vivenciadas, ainda me dariam). Como era bom poder penetrar na matéria escolar, conhecer em profundidade dos assuntos que se discorriam em sala, poder se sentir impulsionado por um mundo de saber, que me mostrava um mundo de maravilhas. Satisfazia-me desfrutar da companhia de pessoas queridas, discorrendo dos mais diversos assuntos (desde as discussões políticas até os gostos pelos aromatizantes sanitários). Contentava-me as tardes de mingau Cremogema, as audições dos programas radiofônicos de notícias, o suco de laranja no desjejum. “Experiências científicas”, companheiros de aula, brincadeiras de correr e pegar; escola bíblica dominical, festas bonitas...

Acho que um pouco de mim ficou lá. Talvez não seja mais eu mesmo. C’est la vie, poder-se-ia dizer outrora; hoje, isolado por um mundo cada vez mais superficial (em todas as esferas), e a fim de ser compreendido, digo azar do goleiro, enquanto vou subindo para mais um processo de avaliação.

(escrito no final do segundo semestre de 2006, à disciplina de Língua Portuguesa II)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Vale para Chávez, vale para Lula

Depois que Luiz Inácio Lula da Silva decretou que era "bravata" tudo o que passou a vida dizendo quando estava na oposição, o bom senso recomenda que se tomem com pinças todas as suas declarações. Podem ser desclassificadas depois, ao sabor das conveniências. É o que acaba de ocorrer com a sua tese -de resto correta- de que é "brincar com a democracia" a tentativa de seus bajuladores no PT de forçar um terceiro mandato.

Todas as declarações que Lula fez anteontem a propósito dos esforços de seu amigo Hugo Chávez para perpetuar-se no poder servem, à perfeição, para o próprio Lula.

Se ninguém reclamou de que François Mitterrand, por exemplo, ficou 14 anos na Presidência da França, por que deveria reclamar se Luiz Inácio Lula da Silva ficar 12 anos na Presidência do Brasil (ou 16 ou 20 ou até morrer)?

Claro que o argumento parte de uma premissa falsa. Mitterrand não mudou as regras do jogo com ele em andamento para permanecer 14 anos no Eliseu. A regra era um mandato de sete anos com direito à reeleição. Ponto.

Se também ninguém reclamou por Felipe González ter ficado 14 anos como presidente do governo espanhol, ninguém deveria reclamar se Lula ficar um pouco mais ou um pouco menos, certo?

De novo, a premissa é falsa. A regra do jogo na Espanha é o parlamentarismo que pressupõe, sim, reeleições indefinidas, mas com a hipótese de um voto de desconfiança derrubar o governante até no primeiro ano, sem qualquer trauma, o que não acontece no regime presidencialista.

Ao contrário do que diz Lula, o problema não é "a continuidade". É, entre tantos outros, mudar a regra do jogo depois de ter jurado defendê-la. Mas, como se viu desde que renegou todas as "bravatas" de oposicionista, desdizer o que disse não é problema para Lula.

(Clóvis Rossi, São Paulo)

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Três lições inesquecíveis

O espetáculo reconfortante da humilhação pública do senhor Hugo Chávez foi um dos mais instrutivos das últimas semanas. Com ele aprendemos três lições: sobre o que é democracia, sobre o que é um rei e sobre como funciona (ou não funciona) a cabeça de um revolucionário. A primeira delas devemos ao presidente José Luis Zapatero, a segunda, a Juan Carlos de Bourbon, e a terceira, ao próprio senhor Chávez.

(1) Ao exigir o respeito devido ao seu antecessor José Maria Aznar, que ali fora ofendido por um orador insolente, o senhor Zapatero mostrou a diferença - que nem sempre há, mas deveria haver - entre esquerda democrática e esquerda revolucionária. Esta última acredita que seus projetos sociais são tão sublimes que fazem dela "o primeiro escalão da espécie humana", como dizia Che Guevara, condição que a autoriza a ignorar solenemente os deveres morais e legais que pesam sobre as pessoas comuns e a investe do direito de mentir, trapacear, roubar e matar ilimitadamente em nome das belezas imaginárias de um futuro hipotético. Já a esquerda democrática, consciente da fragilidade das idéias humanas, pode lutar pelos seus projetos com entusiasmo, mas sabe que eles valem menos do que a regra do jogo em que concorrem com os do adversário. Para o revolucionário, só o que importa é modificar a sociedade - se não a natureza humana - de maneira integral e irreversível, passando por cima de tudo e de todos. O democrata, de direita ou de esquerda, sabe que nenhuma mudança introduzida por um governo é tão inquestionavelmente boa que deva a priori estar vacinada contra a possibilidade de que o governo seguinte a reverta. Zapatero mostrou que, na ordem democrática, ninguém tem a última palavra.

(2) Um rei não é um governante. É o comandante vitalício das Forças Armadas, o garantidor da autoridade dos governos sucessivos, o guardião de uma ordem que permanece enquanto os políticos passam. Com sua inesperada intervenção, o rei Juan Carlos não entrou no mérito do assunto em debate. Apenas garantiu, contra a insolência de um monólogo ditatorial histérico, o direito do seu chefe de governo à palavra. Não faltarão na mídia brasileira desinformantes cínicos o bastante para tentar impingir ao leitor um relato invertido, fazendo de Chávez o indiozinho indefeso, oprimido pela prepotência do colonizador. Mas a seqüência das imagens mostra claramente que foi Chávez o primeiro a oprimir o interlocutor, só se detendo, atônito, ante a entrada em cena de uma personalidade mais forte.

Se as palavras dessa personalidade foram exemplarmente abruptas e cortantes, isso só mostra que não é próprio da função real tagarelar, mas tapar a boca dos tagarelas que se arrogam o monopólio da fala.

(3) Quanto ao senhor Hugo Chávez, fazendo diante da reprimenda aquela expressão inconfundível de perplexidade e medo, mostrou algo que há anos venho dizendo: todos esses líderes revolucionários, a começar por Fidel Castro, pelos chefes das Farc e pela multidão dos nossos terroristas indenizados por seus próprios crimes, são indivíduos fracos, covardes, frouxos, bons para atirar em manifestantes desarmados ou para matar pelas costas adversários desprevenidos, mas incapazes de qualquer ato de genuína coragem, que por definição é sempre um ato solitário. Valentes diante dos holofotes ou fortalecidos pela proteção de uma rede internacional de cúmplices, tão logo se vêem abandonados à própria sorte só o que sabem fazer é implorar como Che Guevara: "Não me matem! Não me matem!". Mostra-me os teus heróis e eu te direi quem és.

(Olavo de Carvalho, filósofo)

sábado, 10 de novembro de 2007

Me espere até amanhã

O seu amor dentro de mim
É um calafrio
Sua respiração me embala
É poesia
Parece só um sonho bom
Mas é verdade
Que dói aperta o coração
Como a saudade
Me sinto leve como um anjo
Apaixonado
Rodopiando por aí
Como um tornado
O seu olhar me beija a alma
E faz ferida
Como se eu te devesse
Mais amor
De outra vida
O nosso amor
É um jeito antigo de querer
É valsa de Chopin
É um riso aberto
Do futuro me chamando
Me espere até amanhã


(Moacyr Franco)

+ * + * +

À Menina da cor do verão, desejo do passado, alegria do presente, sonho do futuro, meu carinho e minha gratidão por podermos caminhar mais um dia juntos. Amo você!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Pensamento da semana

Se os homens dessem mais atenção à colocação dos problemas em termos reais e objetivos, do que costumam dar às teorias, haveria menos desentendimento e um maior esforço de colaboração, de compreensão e de paz. O esforço no sentido de colocar os problemas em termos reais e objetivos exige honestidade de propósitos, sinceridade, espírito de dedicação, compromisso com a verdade antes de tudo, em lugar da luta cega pelos interesses imediatos. Por isso, ouso fazer esse convite: procuremos as soluções que se esforçam por colocar os problemas como eles devem ser colocados, em lugar de colocar os problemas de modo que eles caibam nas soluções que já trazemos conosco antecipadamente. Somos problemas à procura de soluções: a solução primeira é tomar consciência dos problemas, dos problemas que nós somos, dos problemas que nós pomos, dos problemas que se põem para nós, dos problemas que devemos descobrir diante de nós. É mais fácil construir uma teoria do que formular com precisão um problema – eis a questão. E por isso dizemos que as soluções estão à procura dos problemas.

[MENDONÇA, Eduardo Prado de. O mundo precisa de filosofia. 7.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1984, p.73.]

Saúde, força e união!

sábado, 3 de novembro de 2007

Hava Nagila

Quem me conhece, sabe que sou um tanto eufórico. Ou, melhor, talvez não seja eufórico, mas me empolgue em alguns momentos e com algumas coisas. Músicas, principalmente.

Agora, que escrevo esse post, ouço o Hino da Independência, de Evaristo da Veiga e D. Pedro I. Considero um hino grandiloqüente, tanto na letra quanto na melodia. A propósito, assim como é o Hino pelo Sete de Setembro, considero lindo, empolgante, o Hino da Maçonaria (que por sinal, é da lavra do primeiro imperador do país-continente). Marchas militares me comovem e me impulsionam.

Músicas démodé também me agradam. Boleros, então, nem se fala! Contudo, há uma música que expressa a empolgação de qualquer ser vivente: Hava Nagila. Como é algo que me está sacudindo as entranhas há umas boas semanas, precisava compartilhar na blogosfera.

Até semana que vem, penso no que escreverei. No interregno, fiquem com a Rika Zarai, mais conhecida como Tiazinha Cabeçuda, cantando essa que é a mais saltitante das músicas compostas pelo Homo sapiens.

Saúde, força e união!

sábado, 27 de outubro de 2007

Procrastinação semi-acidental (ou, se preferirem, Logorréia claudicante)

Essa semana, vivenciei vários momentos postáveis. O problema? Eu os esqueci. Assim, sinto-me como quando se está a cair em sono, mas se quer continuar a conversa com alguém: fala-se algo, perde-se um pouco da conversa, dá-se umas cabeçadas.

Minha avó paterna conta uma experiência hilária: logo após a morte do meu avô paterno, minhas duas avós, que já eram amigas, passaram a andar muito juntas; certo dia de calor, instantes após o almoço, elas sentaram no sofá para conversar. Vó Eva, a avó materna, fala devagar e repetitivamente, sendo tão prolixa quanto o professor da palestra inicial do Salão da PUCRS, fazendo com que Vó Maria pegue no sono; Dona Eva, a tagarela, nem nota. De repente, no meio do discurso da conversadora, a outra acorda num pulo, perguntando “e por que a senhora não põe mercúrio?”; notando a mancada, convidou a amiga para tomarem café.

Acho que estou assim: meio adormecido, mas com a séria possibilidade de dar uma cabeçada. Alguém puxa conversa?

+ * + * +

Enquanto isso, a Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras, por alcunha CMPF, está por aí, rolando solta. Essa foi a primeira contribuição que entendi como se pagava, lá em 1215, quando assinaram a Magna Charta. À época, era 0,25% de valores movimentados em conta bancária. A única coisa que não me explicaram é quanto tempo um provisório se mantém como provisório.

Parece as engendrações que minha família fazia: caiu um pé de armário, lascou uma porta, rasgou um papel? Enjambra aí que é provisório.

Provisória era a cozinha que mamãe comprou. Feita de uma madeira que nem pra fogo vale, foi adquirida numa loja de turcos na zona norte de Porto Alegre, um ano antes do meu irmão nascer. Sem exagero, meu irmão está próximo da maioridade.

É provisório.

Piores são os modos medievais como minha avó (a tagarela que fala baixinho) conserta a dentadura. Depois que o protético dela morreu de velho, ela mesma cola e endireita os dentes, com a famosa Super Bonder. Acho que não preciso falar mais nada.

É por pouco tempo.

Nunca tive uma mesa de trabalho arrumada. Só atualmente, no trabalho, consigo enxergar o tampo da escrivaninha. Livros, correspondências, pão do café, chave, óculos, carteira, documentos, e mais livros, e mais correspondências, e assim vai. Ninguém acredita, mas para encontrar o monitor, certa vez, tive de guardar coisas por meia hora. Meu argumento para deixar assim?

Em breve, darei um jeito.

+ * + * +

Acho que o governo e a imprensa, assim como eu, está a sofrer de uma logorréia claudicante. Não sabe se fala, se não fala, quando vai falar. Logo, logo, tudo se ajeitará. Será?

Saúde, força e união!

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Impressões de um semi-cientista (2)

La commedia è finito, diria Canio. Para não dizer que já acabou, ainda há o dia de amanhã, inteiro, de exposições; todavia, minha pequena atuação já se realizou exaurientemente.

Falei, contribuí ao trabalho dos outros, contribuíram ao meu trabalho. Conheci novas pessoas, reencontrei outras. Enfim, nada melhor que lidar com isso. Ciência? Deixe pra lá. Nada melhor que conversar e crescer em grupo.

Os trabalhos de Filosofia que pude acompanhar dos meus colegas de PUCRS foram magníficos. A Epistemologia corre nas veias deles. As pessoas que conheci do Direito também fizeram boas apresentações, sempre naquele estilo formal, porém elegante.

Ártico, Shana, Aline, Vanessa, Miguel e Luiza foram apenas alguns nomes de vários acadêmicos com quem pude conversar. Agradeço com sinceridade o compartilhar de saberes que foi proporcionado.

Do meu trabalho? Posso dizer que fui bem. Dentre tantas coisas faladas, uma, de minha própria lavra, valeu o elogio do ano: cinco vocábulos comuns, colocados em determinado contexto, chamaram a atenção da banca e se tornaram recomendação de assunto à pós-graduação! Fui o único da sessão com tamanha deferência. Fiquei muito honrado com isso.

Só lamento a má estrutura da PUCRS. Depois, contarei melhor. Quiçá, eu dê um jeito de arrastar o trabalho da Lionara ou do Adriano para cá. Filosofia é sempre bom.

Saúde, força e união!

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Impressões de um semi-cientista

Abertura de salão de iniciação científica da PUCRS. Samuelzinho, como vai apresentar um trabalho na área do Direito, vai engomadinho, escolhendo um terno em risca-de-giz, preto, com uma camisa cinza e uma gravata preta, com losangos pequenos meio pratedos. Sapato confortável, devidamente engraxado, barba aparada, pôster entregue pela manhã, seria necessário apenas relaxar e gozar bons momentos de convívio acadêmico.

Atrasou um pouco. Normal. Três pró-reitores fizeram discursos, o quinteto de metais fez uma maviosa apresentação, e a professora Blá-blá-blá Girafa (o sobrenome dela é pescoçudo assim mesmo) apresentou o palestrante da tarde. O homem, acompanhado de um “pesquisador” (um pobre bolsista como eu) estava lá a amparar o rechonchudo docente à apresentação da tarde.

(como aprendi que, quando se muda de assunto, muda-se de parágrafo, mudarei agora)

Sofri durante um tempo um tipo de insônia. Nos últimos dias, um tanto ansioso com o trabalho, andava meio insone. Fui curado hoje, graças à palestra do nobre doutor, capaz de dar inveja à bruxa da Bela Adormecida, tamanho o poder sonífero que estava contido naquelas palavras, que soavam mais longa e confusamente que qualquer gongo de templo budista!

Fui ao meu espaço designado. Esperei a banca das 16h às 20h. Sim, 4h em pé e parado. Conversei com alguns colegas do Direito e da Filosofia, compartilhei e discuti sobre nossos cartazes, dividimos água gaseificada. Não só a garganta, mas meus pés e pernas também pediram o líquido precioso.

O que acontecerá? Quem viver para ver, verá! Só sei duas coisas: (1) sei que nada sei, e que (2) o terno hoje foi minha PIOR opção. Senti-me apertado, com calor, com cansaço, fora a bagunça do início do evento que me atordoou. Droga de vida.

Vou tentar continuar contando como será a semana. Saúde, força e união.

domingo, 21 de outubro de 2007

Companheira de longa data

Se cefaléia fosse uma pessoa, certamente ela seria uma das minhas companheiras mais antigas. Lembro-me de sentir muitas dores de cabeça desde bem pequeno, com todos os tipos de explicações dadas pelos semi-médicos da família: muita leitura, música alta, olhar televisão muito próximo à tela, jogar videogame, sinusite, rinite, cistite, pancreatite e qualquer outra coisa com “ite” e que possa doer.

Não interessando o motivo, sei que ando sofrendo, cada vez mais, com os famígeros mal-estares. Laterais, anteriores, posteriores, fortes, fracas, curtas, longas, que causam náusea, que causam tontura, que fazem enxergar o mundo como se fosse uma bata de hippie, dessas espécies, eu já tive todas; nihil obstat, conheci várias outras, inclusive as motivadas pelas conhecidas pancadas: de bola, de cotovelo, de janela ou apenas de um belo sapataço arremessado pelo desgraçado do meu irmão.

Estou um pouco preocupado comigo mesmo. Ando sofrendo espasmos musculares, principalmente na face. Li numa filipeta que ambos os sintomas podem ser reflexo de problemas neurológicos. Quanto tempo será que eu ainda tenho de vida?

Agradeço a preocupação das pessoas à minha volta, em especial àqueles que me fizeram receber o papelzinho informativo que pode pré-diagnosticar minha causa mortis, gentilmente colocado na minha caixinha de correio pelo primo do irmão da cunhada do porteiro do edifício em que trabalha a afilhada da cozinheira da esposa de um colega de futebol do vizinho do apartamento 406. Além dos sintomas, a tira vegetal tem uma caveira estampada, oferecendo-me um formidável plano de assistência mortuária. Bom, ao menos um alívio: caso eu suba pro telhado, eu paro de ser acometido pelas dores de cabeça e ainda já sei que estabelecimento cuidará de minha carcaça. Mas vejam só o que é a vida: pagar meu funeral dará uma dor de cabeça...

Força, união e saúde (que me está fazendo uma falta...)!

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Tiro ao Álvaro

Adoniran Barbosa é um exemplo de expressão popular e de inversão de posições quando ao preconceito lingüístico. Tiro ao Álvaro e Samba do Arnesto são duas músicas com letra “errada” que deram “certo”. E agora?

Não chegarei ao extremo de afirmar que qualquer modo de falar, havendo comunicação entre as partes, está bom; o pensamento “erudito” nos faz crer que só há um modo de pensar, escrever e reagir, mas como ele está, em incontáveis vezes, longe de expressar o que se sente.

Certa vez, apaixonado por uma estudante do curso de Letras, decidi-me por pedi-la em namoro. E agora? Como deveria me fazer comunicar? Escolher usar o polido e correto quer me namorar? ou o romântico quer namorar comigo? foi uma tarefa que me custou dias. Foi bom: perdi a paixão no interregno.

Meu germano praticava o mau hábito de botinar as pessoas em suas nádegas, um literal pé na bunda. Como dizer isso para minha mãe a fim de repreender o guri, com minha madrinha à sala, sem falar em bumbum, poupança, nádegas, bunda, busanfa ou qualquer outro vocábulo urbana e politicamente correto que valesse à parte traseira do corpo? A solução veio de uma aula de Anatomia, recebida na 3ª série fundamental: “mamãe, mamãe, acuda-nos! Teu filho, meu irmão, está a golpear com o pé os glúteos da prima Eliane”! Preciso dizer que este que escreve, contando com seus oito anos, virou o assunto da sala (depois das devidas exortações a meu irmão, à época com dois)?

Falar é preciso. Quem não se comunica, se trumbica, disse Abelardo Barbosa, influente apresentador de programa de auditório. Resta-me a dúvida: entre duas pessoas, uma, com um vocabulário deveras escorreito, e outra, com a oralidade e a escrita sem emprego de muitos recursos lingüísticos, quem é a aberração? Quiçá minha pergunta não esteja muito precisa. Pergunto, assim: alguém de nós ainda pode se arriscar a dizer que não dá um tiro num álvaro?

Saúde, força e união!

Boa obrigação

Como já comentei, escrever exerce sobre mim uma pressão danada. Todavia, não me desgosta escrever, narrar, trocar idéias. Ora em minúcias, ora en passant, a tarefa me é aprazível, mas não pouco cansativa.

Gostaria de poder escrever com a mesma fluência que falo. As palavras escorregam aos borbotões, soando como soa o ringido de uma velha porta, sem nenhum esforço (esforço seria não fazer seu peso vibrar sobre as dobradiças). Contudo, aos fazê-las passar pelo processo de conformação às regras do vernáculo, parece-me que perdem um pouco do seu brilho.

Eis meu desafio: escrever tão bem a ponto de, mesmo buriladas, minhas idéias possam se mostrar resplandecentes, límpidas como cristal ou foscas como âmbar. Não ouso dizer que serão luminosas: por mais que se escreva, limitar a grandeza do pensamento ao papel é como retratar a beleza da paisagem em uma fotografia. Permita o Autor Maior que, ao menos, minhas memórias sejam apenas uma marca, um sinal exterior, que identifique quem eu sou; enquanto esse tempo não chega, vamos aqui, lutando com (ou contra?) os verbos.

Saúde, força e união!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Alea jacta est!

Quando o escritor não é dotado de uma verve sincera, precisa encontrar um argumento a escrever, um estímulo a pegar a pena. É o meu caso: acho linda a arte de bem redigir, mas quando a necessidade bate à porta, tomo-me de uma angústia, de um aperto no peito que me sufoca. Às vezes, é isso mesmo que me acontece: uma certa pressão na caixa torácica. Admito que escrevo melhor que a média nacional, que sequer escreve, mas quando faço os olhos lerem o fruto do meu penoso trabalho, bate o desespero: como fico insatisfeito comigo mesmo!

Lembrar das aulas de redação me faz encabular. Acho que minhas desculpas eram mais criativas que os contos que a professora nos fazia escrever. Não que eu não tenha posições formadas, mas formá-las no papel é por demais complicado para mim. Era (e ainda é) como se eu realizasse uma extrusão de idéias, forçando-as por uma ponteira e fazendo-as sair de maneira muito limitada; porém, parece que não consigo fechar bem, tomar o assunto por completo, criar uma esfera envolvente. Para piorar, há vezes que o assunto não vem... Aí, meu amigo, haja coração!

Sempre pensei que seria engenheiro, contador, bancário ou trocador de ônibus. Quis o Supremo que eu não trabalhasse com números, mas com as letras. Cá estou, forçando-me a escrever, assim como se força a alfabetização de um pequenino; talvez seja assim mesmo que eu me sinta: sou um menino que ainda gosta da pandorga colorida, voadora no céu do pensamento, mas que precisa aprender a pôr no papel o mundo que o rodeia, segundo as normas chatas da semântica, criadas por adultos sem o menor senso de humor. E enquanto me vou adequando às regras do velho e antipático vernáculo, vou sonhando com uma rabiola de conversas bem alegres, num fio de imaginação bem longo, refestelando ao vento da imaginação e reluzindo no sol primaveril a minha pipa de liberdade, descomprometida dos formalismos a que nos condicionamos à comunicação escrita.

E de que seria feito esse meu papagaio? Essa é a grande dúvida. Sobre qual assunto eu poderia digredir, voar longamente, fugir às alturas? Nem eu sei. Acho que quero apenas poder pensar na possibilidade de voar. Alguém pode me ajudar a encontrar um tema para papear? Alea jacta est!

Saúde, força e união!

domingo, 30 de setembro de 2007

Champaaaagne...

Mas tudo passa, tudo paaaassará / e nada fica, nada fiiiicará..., canta(va)m Nelson Ned e Agnaldo Timóteo. A vida é assim mesmo, um mutatis mutandis constante. Tão certo quanto o sol que há de nascer no devir, os livros que ensinavam de Processo Civil mudarão ano que vem e as vivências que haveremos de passar serão incomparáveis.

Lembro de um casamento que minha mãe foi madrinha, há uns quinze anos. Ela estava usando um vestido preto para lá de estranho. Se não bastasse ser bisonho, ele contava com mangas bufantes num casaquinho curto (vestido era tomara-que-caia). Era bisonho, digno de ser usado na primeira comunhão de uma menina gótica. Meu desejo à época era de defenestrar o estilista (sim, o corte era de um estilista). Lembro, ainda, do penteado que moldava a cabeleira da genitora: era uma espécie de pigmaleão, cortado e enrolado, e que me faz lembrar em muito as falsas melenas do Rei-Sol. Coisas da vida.

Sou um tanto vintage. Por exemplo, estou usando uma calça de nove anos atrás. Sim, a mesma calça. Excetuando-se a armação do óculos e a barriga saliente, todo o resto do dono é basicamente o mesmo. Enquanto escrevo, ouço Tammy Wynette cantar Stand By Your Man, com um cabelo capaz de desafiar qualquer impacto de alta potência. Alguém tem coragem de dizer que ela não é anacrônica?

Winston Smith, personagem principal de Nineteen Eighty-Four, compra em um antiquário um pequeno peso de papel com um coral dentro. Aquilo lhe era reputado por jóia, ainda que fosse mera quinquilharia; quiçá, pois isso mesmo era valioso: porque era velho. E qual de nós não tem sua porcariazinha, algo quase tão [ou mais] importante quanto o cheirinho (aquele pano fedido de criança)?

Não há como não reconhecer: há cafonices bonitinhas...! Quando conheço uma mulher chamada Aline, sinto-me obrigado a perguntar se conhece a música. Antes de deitar, lembro da propaganda dos Cobertores Parahyba, que várias vezes ouvi antes de chegar à alcova. Quando vou comer mocotó no inverno (um ato quase religioso para mim), passo duas horas ouvindo Richard Clayderman tocar seu repertório pra lá de enxaguado, com direito a Moon River, Ballade pour Adelline e o tema de Romeu e Julieta. Há algo mais brega que isso?

Comentei com amigos meus que iria cantar uma música cafona em meu casamento. As mulheres, como era de se esperar, ficaram horrorizadas. Quando eu disse que a dita música seria Champagne, cantada por Peppino de Capri (o nome já traduz o momento neoproterozóico em que viveu esse ser), uma das moças pulou em minha jugular, aos berros de eu amo essa música! Fiquei sem reação. Ainda há alguém que se lembra da boa e velha Champagne / per brindare a un incontro...!

Lembro dos investimentos em overnight na época da inflação, da SUNAB, do gatilho, da minha primeira cédula de Um Real, recebida na troca dos meus contados Dois Mil, Setecentos e Cinqüenta Cruzeiros Reais, e devidamente acondicionada na caixa do joystick com turbo automático do Super Nintendo. Sempre quis ter dinheiro investido no TC Bamerindus, brincar em um pogobol e tomar Grapette no Óculos do Chaves; esse último eu consegui, mas foi conquistado à guisa de muito incômodo.

Coisas do passado. Coisas que foram e ficaram na memória, mas não voltam mais. O segundo banho de rio é diferente do primeiro, não adianta forçar.

Acho que, da nostalgia, por hoje é só. Para quem não lembra do Peppino cantando, segue abaixo a famigerada música.

Saúde, força e união!

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

De novo

Mais uma vez, tento iniciar um blog. Já é o terceiro. Os outros dois faleceram de inanição, pobrezinhos. O primeiro, lúdico ao quadrado, retratava minha euforia; o segundo, politicamente ácido, tentava mostrar um Samuel sisudo, grave, capaz de protestar contra o instinto de caça de um leão faminto. Como será esse que ora surge?

Pr. Wagner Araújo, amigo meu, aconselhou-me a escrever um diário, à mão, com todo o romantismo que merecem os alfarrábios dos grandes homens. Todavia, não sou um grande homem; sou apenas o Samuel, com manias e defeitos e virtudes e chatices e euforias, tudo-numa-coisa-só. Sou apenas eu mesmo, tão indivisível quanto Demócrito cria ser o átomo.

Acho que estou ficando velho, gordo e contemplativo. Estou aprendendo a ver o mundo por minúcias, o que me causa uma sensação de admiração, o thaumatzein apregoado pelo filósofo; frente a isso, tentarei criar um espaço para dialogar, antes de qualquer pessoa, comigo mesmo; àqueles que quiserem me acompanhar nessa tarefa, serão muito bem acolhidos. Permita Deus que dessa vez vingue!

Provavelmente, esse primeiro acesso será daqueles que estimo, que receberam um aviso meu. Talvez o tempo transcorra e nem eu mais me sinta comovido pelo que eu postar. Não se banha duas vezes no mesmo rio, diz Heráclito. Eis a tentativa de mais um blog. Molhemo-nos. Será que haverá um novo banho?