quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Voz que clama no deserto

Assisti a um filme bem interessante, Linha de Montagem. Nele, o [hoje] Presidente Lula ainda era sindicalista, usava uma barba idêntica à do Raul Seixas e falava em “opressão econômica” e todo o palavrório marxista. Excelente filme, mostra e conta as articulações de greve em São Bernardo do Campo no início dos anos 80. Interessante. Valeu (e muito) o investimento da entrada: sala boa (no SindiBancários, uma salinha pequena, mas muito confortável, e com um atendimento de primeiríssima – com direito à pergunta “a temperatura está adequada?”, feita quando entrei), filme bom, tudo bem legal.

Lula era o exemplo da liderança pessoal. A figura dele, aclamada entre os metalúrgicos, era a representação do bem maior, o símbolo da defensa dos trabalhadores. Os fracos e oprimidos se viam nele. Hoje, 30 anos depois (fora as aplicações de botox, o clareamento dental e o tratamento VIP que se dispensa às “Nossas” Excelências) o que constatei é que não temos mais alguém para chamar quando precisamos, enquanto proletários, para que lute por nossos interesses. A oposição trabalhadora hoje governa, não sabe mais o que é bater ponto e esquece de quem está na base. Complicado isso.

Todos nós precisamos da figura do João Batista, a voz que clama no deserto, preparando a vinda do Messias. Será que, hoje, Lula é o Messias, e o que fez, fê-lo por anseio desse posto? Nada há que se possa duvidar nessa vida. Mas o que sei, e não há como não saber, é que não há mais uma figura que vele por nós.

No filme, havia uma faixa pintada com dois rostos, o de Jesus e o de Lula. Às vezes, acho que Luís Inácio gostaria de assumir essa figura do salvador imarcescível, assim como a tem o alferes Tiradentes. Enfim, convém lembrar que Jesus era pobre, foi morto pelo mesmo povo que o aclamou (no Domingo de Ramos, anterior à sexta-feira da crucifixão) e não concorreu a mandato. Gritar por justiça é difícil, mas foi feito; será que [brizolisticamente falando] o Sapo Barbudo abraçaria esse rabo de foguete? O tempo nos dirá.

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