Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebra dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco.
(João Cabral de Melo Neto)
+ * + * +
Aos amigos blogueiros e escritores, meu carinho por cozinhar a sopa das letrinhas. :)
Bom findi a todos!
3 comentários:
Que chique, Sami! Amei!
Bjins
É, eu bem que dispenso algumas pedrinhas
;)
Beijão querido
Incrível! Já conhecia a poesia, mas fazia tempo que estava esquecida. Valeu!
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