quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Tempos idos

Se devo escrever sobre saudade, escrevo; mas do que posso sentir saudade nesse momento? Em fins de semestre, com toda a sofreguidão a que nos afadiga, há espaço para escrever sobre “saudade”?

O que é, pois, saudade? Palavra triste quando se perde um grande amor, diria certa música; presença da ausência, diria outra. Para o filólogo, não passa de um pesar pela ausência de alguém. E para mim, o que representa tal vocábulo, tão impreciso quanto outros, como “muito” e “pouco”? Estou prestes a crer que a saudade é uma lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave. Lembrança de pessoas, de coisas, de momentos, distantes e extintos (quer seja pela poeira do tempo, quer seja pela poeira da vida), lembrança acompanhada do desejo de vê-las, de possuí-las, de tocá-las novamente; uma força lânguida que nos quer aproximar e não impede de afastar daquilo que se quer bem.

Se, hoje, nesse exato instante, eu precisasse dizer do que sinto saudade, diria que é de um momento: do momento em que eu podia viver e desfrutar das coisas que me davam prazer (esclareço: algumas delas, se vivenciadas, ainda me dariam). Como era bom poder penetrar na matéria escolar, conhecer em profundidade dos assuntos que se discorriam em sala, poder se sentir impulsionado por um mundo de saber, que me mostrava um mundo de maravilhas. Satisfazia-me desfrutar da companhia de pessoas queridas, discorrendo dos mais diversos assuntos (desde as discussões políticas até os gostos pelos aromatizantes sanitários). Contentava-me as tardes de mingau Cremogema, as audições dos programas radiofônicos de notícias, o suco de laranja no desjejum. “Experiências científicas”, companheiros de aula, brincadeiras de correr e pegar; escola bíblica dominical, festas bonitas...

Acho que um pouco de mim ficou lá. Talvez não seja mais eu mesmo. C’est la vie, poder-se-ia dizer outrora; hoje, isolado por um mundo cada vez mais superficial (em todas as esferas), e a fim de ser compreendido, digo azar do goleiro, enquanto vou subindo para mais um processo de avaliação.

(escrito no final do segundo semestre de 2006, à disciplina de Língua Portuguesa II)

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