quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Tiro ao Álvaro

Adoniran Barbosa é um exemplo de expressão popular e de inversão de posições quando ao preconceito lingüístico. Tiro ao Álvaro e Samba do Arnesto são duas músicas com letra “errada” que deram “certo”. E agora?

Não chegarei ao extremo de afirmar que qualquer modo de falar, havendo comunicação entre as partes, está bom; o pensamento “erudito” nos faz crer que só há um modo de pensar, escrever e reagir, mas como ele está, em incontáveis vezes, longe de expressar o que se sente.

Certa vez, apaixonado por uma estudante do curso de Letras, decidi-me por pedi-la em namoro. E agora? Como deveria me fazer comunicar? Escolher usar o polido e correto quer me namorar? ou o romântico quer namorar comigo? foi uma tarefa que me custou dias. Foi bom: perdi a paixão no interregno.

Meu germano praticava o mau hábito de botinar as pessoas em suas nádegas, um literal pé na bunda. Como dizer isso para minha mãe a fim de repreender o guri, com minha madrinha à sala, sem falar em bumbum, poupança, nádegas, bunda, busanfa ou qualquer outro vocábulo urbana e politicamente correto que valesse à parte traseira do corpo? A solução veio de uma aula de Anatomia, recebida na 3ª série fundamental: “mamãe, mamãe, acuda-nos! Teu filho, meu irmão, está a golpear com o pé os glúteos da prima Eliane”! Preciso dizer que este que escreve, contando com seus oito anos, virou o assunto da sala (depois das devidas exortações a meu irmão, à época com dois)?

Falar é preciso. Quem não se comunica, se trumbica, disse Abelardo Barbosa, influente apresentador de programa de auditório. Resta-me a dúvida: entre duas pessoas, uma, com um vocabulário deveras escorreito, e outra, com a oralidade e a escrita sem emprego de muitos recursos lingüísticos, quem é a aberração? Quiçá minha pergunta não esteja muito precisa. Pergunto, assim: alguém de nós ainda pode se arriscar a dizer que não dá um tiro num álvaro?

Saúde, força e união!

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