Não há nada exatamente igual a outro elemento de mesmas características, forma, volume e blablablá. Não há. Se for outro, então não é o mesmo.
Tive um namoro-relâmpago com uma moça que estimo bastante, embora não a veja nem fale com ela há muito. Em uma das visitas à casa dela, conversávamos, a família dela e eu, sobre frivolidades, tais como o aumento do preço do grão-de-bico e sobre “os cricris” da vida, em que minha ex-futura-sogra narrava o fato de ter um irmão (ou cunhado, ou primo, ou algo que o valha) extremamente crítico, que punha defeito em qualquer alimento preparado, exceto um: a salada de frutas que a esposa dele fazia. Meu quase-sogro olhou para mim, deu-me um tapão no joelho, fitando-me a pupila como se fossem duas bolinhas de uva, a me dizer “ora, veja só; salada de fruta é tudo igual!”. Acho que foi ali que meu namoro acabou.
Nada pode ser maior que a salada de fruta da minha avó. Nada. Em outras categorias, ficam a torta de bombom da Mana e o estrogonofe de almôndegas da Hadassa, além dos biscoitos da vó Maria e das limonadas do Tio Clóvis e da vó Eva, sem contar na torta de biscoito que mamãe fazia (embora eu não gostasse do açúcar queimado que ela punha ao fundo). Mas nada é maior que a salada de frutas da minha avó. Nada. Lembrei disso enquanto deglutia o simples, porém substancioso manjar de vovó, deixado à geladeira em um recipiente plástico, a me esperar chegar da Academia, do Liceu, do templo do saber, ou só de mais uma aula depois de um dia de cansaço.
Não sei bem dizer ao certo o que me agrada: seria o ácido das frutas cítricas? Ou o adocicado da combinação? Ou a combinação de frutose açucarada?
Acho que encontrei a resposta, depois de tantos anos passados comendo essa mescla vegetal: em tão simples garafunchos, ao chegar à porta para entrar em casa, vejo uma ponta de papel a sair pela fresta, em que se lê, assim como consta:
“Porto Alegre, 25 do 8 = 2008
Oi Samuel
Só para ledizer
Há uma salada
De fruta
Na jeladeira
No plastico
Braquo
Ta
Vó
Eva”
É o carinho da matriarca que dá gosto! São suas lágrimas de preocupação por duas gerações que viu passar que lhe dão a acidez, mas é seu amor que adoça esses cubinhos de maçã.
Não esquecerei disso. Prometo a mim mesmo: bendirei ao Senhor meu Deus, enquanto houver frutas em algum pomar, que houve, há e haverá avós que amam demais, mesmo vendo os netos-doutores como seus queridos pimpolhos.
Saúde a quem amamos!
2 comentários:
Que lindo, Sami!!!
Não é que tu também sabe ser sentimental de vez em quando?
Hehehe
Bjinhus
Muito lindo mesmo!
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