sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Irremediavelmente humano

Andando há quatro anos no mesmo itinerário e empregando o metrô como meu veículo de transporte, posso dizer que sou mais que um usuário, mas parte integrante. Estudo, escrevo, converso, durmo, como e faço dos 30min da minha viagem um período produtivo para mim mesmo.

Uma das coisas que mais gosto de fazer é fitar os olhos dos meus parceiros de viagem. Uns, bem arrumados, optaram – assim como eu optei – usar uma locomoção barata, prática e sem congestionamentos; outros, de condição bastante humilde, rumam a seus afazeres. Namorados, amigos, famílias, colegas de trabalho, toda a sorte de pessoas são encontráveis nos vagões do trem urbano. É bom ver pessoas, cada uma com sua fagulha pessoal e intransferível, que lhe tornam muito mais que um ente, mas uma essência ambulante. Isso nos põe num pé de igualdade com os demais e nos faz ver a que espécie o Criador Excelso nos adequou.

Contudo, nada me dói mais que o polinômio pobreza-mentira-necessidade-comércio. Costumo ser tolerante às circunstâncias, sou irremediavelmente humano, mas há algumas me comovem de modo tão negativo que não sei dizer o que sinto precisamente, tamanho o misto de tristeza, indignação e revolta. A exploração da boa-fé e da comiseração é a exploração da piedade de pessoas comuns, apenas travestidas de funcionários, estudantes ou aposentados.

Há quatro anos, vi uma senhora e muito me compadeci dela. Trazia três crianças pequenas consigo, sendo que uma lhe estava ao colo. O marido a abandonou, deixou um trio de bocas a sustentar e as contas a pagar. Como não se compadecer de uma criatura dessas, com um menino pequeno, de uns 5 ou 6 anos, carregado pela mão por sua maninha de, quiçá, uns 8 anos, e mais uma criancinha nos braços?

Em outras oportunidade, encontrei a menininha, já pré-adolescente, trazendo o irmãozinho que ela cuidava, ostentando dois piercings, um ao nariz, e outro, ao umbigo, projetado para frente por uma pança inconveniente. Já vi também a mulher sozinha, com o guri e também com a sua suposta primogênita, inclusive xingando-a por não oferecer a todos as balas de goma que mercadeja.

Isso não é das melhores coisas, mas precisam, certo?

Vi-a hoje, não mais acompanhada de um menino que, hoje, teria uns 8 ou 9 anos, mas novamente com um de possíveis 4 anos. O bebê de colo. O que mais me incomodou: ela está grávida.

Quero continuar acreditando na humanidade. Alguém, por favor, ajude-me a entender isso e não me tornar um monstro inconsciente da importância da vida em grupo.

“Você pode tirar o homem do caminho, mas não o caminho do homem.” Confúcio.

Um comentário:

Lúcia disse...

Que posso te dizer diante disso?
É fácil perder a fé na humanidade, na sociedade. Sem Deus, tudo desanda mesmo. Por isso temos que olhar como Jesus e agir como Jesus, assim poderemos fazer a diferença nesse mundão.