quinta-feira, 6 de março de 2008

Crônicas da menorréia: o intróito


Hoje pela manhã, falava trivialidades com uma amiga que muito estimo. Ao me contar suas novas, relatou-me que iniciara um blog e, empolgada, contou-me que colocou no ar um conto de fadas, com direito a príncipes e gatos brancos. Se não me engano, é isso (não pretendo conferir agora: estou escrevendo no trem e não há modo de me conectar à blogosfera agora).

Enfim, achei muito bonitinho. Sim, bonitinho, simpatiquinho, meiguinho, um amorzinho. Aliás, coisas de mulheres são sempre pequeninas. Só não gostam quando o orçamento do amorzinho (e outras coisinhas mais) são pequeninos. Que contra-senso, não?

Fiquei a pensar: mulheres gostam, em qualquer fase da vida, de contos de fadas, com direito a príncipe em cavalgadura, espada na bainha, beleza no rosto. Quanta fantasia! Por que isso?

Num rompante literário (ou, ao menos, num rompante de indignação), lanço aqui as Crônicas da Menorréia. Explico os porquês:

1. Contos de fadas são agradáveis, ideais e com pessoas bonitas, em peles alvas e olhos cintilantes. A vida não é assim: as princesas frígidas, os príncipes pobres, as montarias sem gasolina e sem capacete atentam contra o sonho. Eu ainda creio no poder da esperança: esperar um amigo que divide a sala de aula e que lhe saúda chamando de herdeiro da meretriz (e que você até sente falta dessas saudações, por mais incrível que pareça, quando não se pode dividir por um dia os saberes acadêmicos e as vicissitudes do respirar), fazer as refeições regulares com horas de atraso tão somente pelo prazer de encontrar a namorada (que está ansiosa para contar a cor de tinta de cabelo que comprou) ou comprar uma bala de goma de um menino pobre que venda na rua. Isso me torna um humano de verdade.

Nosso céu tem mais fumaça, nossas várzeas têm mais lixo, nossos bosques têm menos vida, e nossa vida, menos amores. Por quê? Porque não queremos amar a vida como é; queremos uma princesa estereotipada, e quando encontramos o que julgamos ser essa “princesa”, não nos vemos aptos a tocá-la. Como entender isso?

Creio que nossas princesas, hoje em dia, sentem cólicas, usam aparelho, preferem não usar óculos e ficarem apertando os olhos para ler, pintam os cabelos de grená e não ouvem mais orquestras de câmara em suas salas. Mesmo assim, há princesas: são seres encantadores, que queremos que brilhem do nosso lado, e que fariam tudo para serem felizes (inclusive ver como “príncipe” um barrigudo, feio, espinhento, mulherengo, vagabundo ou qualquer outro atributo que achemos desagradável). Com certeza, o beijo delas nos enobrece e nos tira da condição de anuro; mas não se iludam: depois de algum tempo, elas também começam a coaxar...!

2. Contos de fadas são representações do bem e do mal, e só há bem no casal e naqueles que contribuam para que fiquem juntos. Não vejo assim, e talvez considere exatamente o oposto: o que promove a distância pode muito bem ser motivo para aproximar. Só depende do casal estar disposto. Ou seja, dormir um pouco mais tarde para ficar no MSN, acordar mais cedo e despertar o amado com um toque de celular, arranjar a agenda para que possam fazer coisas juntos, tudo isso pode contribuir muito para se ter mais do que falar. Fofocas, discussões, briguinhas, quem não as têm? Felizes são os que as superam.

3. Contos de fadas obrigam o menino e a menina a ficarem juntos. Será que isso é sempre viável? Acho que vou escrever um “conto de bruxas”, contando exatamente o contrário: o príncipe chulezento e a princesa que ronca ao dormir vêem que serão felizes se amando, mas não necessariamente unidos pelos sagrados laços do matrimônio.

Às vezes, nosssas almas gêmeas são os parceiros etílicos, os colegas de trabalho e a pessoa que senta faz o supino no aparelho ao lado. Note-se: creio que a alma gêmea não é obrigatoriamente o reflexo da conjunção carnal. Bastam duas pessoas. É suficiente.

É isso. Aguardem as crônicas e os contos. Virão, prometo. Se eu não os escrever, certamente a vida se encarregará de contá-los.

+ * + * +

Aos meus reais amigos, a quem amo como irmãos, minha lembrança afetuosa. Aos de perto, prometo me dedicar a procurá-los mais; aos de longe, prometo nunca lembrar de vocês em minhas orações.

Saúde, força e união!

3 comentários:

Fran Magnus disse...

Sami Sami Sami...
Embora eu discorde de metade do que tu escreveu, a outra metade ta bem legal, hehehehe
Beijos!

Fran Magnus disse...

Vai aparecer quando lá no meu Universo?
deixa recadinhooo
bju

Lúcia disse...

Amigo, contos de fada existem. Vivi e vivo em um. Duro de acreditar, mas tem até amor à primeira vista. E eu ronco; e eu marido tem chulé. E nem por isso perdemos a realeza, rsrsrs.
Acho que vou escrever um post sobre nossa história de amor. E vc, não tinha uma noiva?
Desculpe se sou mto intrometida...
bjs