terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Dia 6: Uma foto que te dá saudade



Vó Maria sempre foi uma pessoa por quem nutri imenso carinho. Tirei essa foto porque ela gostou muito do meu chapéu, logo que eu o comprei. Divertimo-nos à beça com as histórias de chapéus.

Tive a felicidade de conhecer e conviver com as minhas duas avós. Vó Maria, mãe do meu pai, era uma mulher mais prática, mais despachada; Vó Eva, mãe da minha mãe, já é um pouco mais acomodada, embora goste de uma boa prosa. Já contei um episódio das duas em outro momento.

Quando se é criança, não se sabe aproveitar os avós como se deve; quando adultos, a vida nos afasta deles. Infelizmente foi assim com Vó Maria: foi adoecendo, ficando fraquinha e, depois de quase um ano padecendo, veio a falecer em 1º/11/10. Foi para os braços do Pai Celeste. Não consegui ficar com ela nos últimos tempos em razão do trabalho e dos estudos, e depois que ela se mudou pra longe, piorou para vê-la. Também não pude ir nos atos finais, mas fiz todo o empenho para que meu pai pudesse acompanhar: comprei-lhe as passagens rodoviárias para vir do interior à capital e daqui, ele pegou o avião para se despedir dela. Voltou ele feliz e consolado. Mas eu não havia me despedido dela. Meu adeus se deu num sonho: sonhei que andávamos ela e eu de carro (nem no sonho eu dirigia!), e eu lhe disse "eu não queria que a senhora tivesse ido!"; ela me respondeu "assim estou melhor; nada dói e estou com meu Senhor". Acordei com a lágrima da saudade, sentindo no corpo esse último abraço - abraço esse que ela não conseguia mais dar, em razão da fraqueza. Fui, por esse prisma, o privilegiado.

Minha última fala com ela foi ao telefone: eu estava no hotel, preparando-me para sair à aula do Mestrado; ela me disse que não estava muito boa e que possivelmente não conseguisse ir ao meu casamento, o que lamentava deveras - mas, mesmo assim, estava deixando o cabelo crescer para fazer um coque bonito. Não conseguiu vir, já estava de partida à morada celestial, restando-lhe só mais uns dias nessa vida terrenal.

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Vó Maria gostava de pêssegos, figos, arroz com frango, churrasco de cupim e Coca-Cola. "Uma coquinha", como ela dizia. Nesse dia, há uns 5 anos, foi o que fizemos, Vó Eva, Vó Maria, Hadassa e eu.

Num dia meio nublado, eu a convidei para tomarmos um cafezinho, a umas duas quadras de casa. Saímos de mãos dadas. Ela no começo se sentiu meio encabulada, como se fosse feio andar assim; depois, ostentava um sorriso faceiro, de se sentir privilegiada.

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Vó Eva foi a primeira pessoa a eu chamar de mãe. Ela morava conosco quando eu era bebê, e como minha mãe a chamava de "mãe", eu também comecei a chamá-la. Ciúmes.

Agora, dos 4 progenitores, só a ela me resta. Preciso aproveitá-la mais. A gente procrastina, acaba se entretendo com coisas importantes e, confiados na compreensão dos nossos anciãos, vai postergando os encontros.

Minha tarefa inadiável para essa semana: dar um abraço gostoso na Vó Eva, enquanto posso e ela também pode.

Até amanhã!

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