segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Defendendo os indefesos

Embora falante, gosto de reduzir o que sinto em poucas palavras. Hoje, esse resumo é um pouco longo, meio misturado, mas pleno: sinto-me “responsável”.

Tive severa crise de lombalgia na sexta-feira, o que me inviabilizou o descanso e me forçou a fazer pequena doação ao quiropraxista; com um pouco de sorte, consegui uma consulta de emergência ainda pela parte da manhã, o que deu uma bela ajeitada, mas não foi plena para me aliviar os incômodos.

Procurei livros para minha prima, conversei, pensei, refleti. Empreguei um tempo de qualidade para mim mesmo, o que me foi bom. Não estava muito contente com o mal-estar, mas me sentia plácido, naquela imperturbabilidade que Epicuro tanto pregou. Também recebi uma encomenda: uma apresentação institucional do meu trabalho, para que fosse exposta em evento fora do Estado; tive de procrastiná-la, pois não conseguia permanecer muito tempo sentado, nem em pé, nem deitado. Inquieto, dolorido e impaciente: eis Samuel.

Dormi um pouco mais no fim de semana. Estudei bastante, embora ainda me considere um incipiente (e insipiente) na persecução penal (mesmo lendo e relendo o Código de Processo Penal, pensando em autos de prisão em flagrante e sabendo que infrações de menor potencial ofensivo apresentam pena mínima menor que um ano e pena máxima menor que dois), e não deixei de ler as Sagradas Letras, auxiliado pelo sapientíssimo Pr. Lima.

Fui a Sapucaia: navegar é preciso, e o gigante do dever rugia ao meu ouvido. Peguei imagens e dados para fazer os slides e voltei para casa. Contudo, recebi uma ligação que me inquietou: uma conhecida, amiga de amiga, disse estar grávida e queria abortar. Meu Deus, um crime doloso contra a vida! Persecução penal, detenção, crime de médio potencial ofensivo, um ser indefeso galgando o cadafalso pela sua própria protetora-mor. Isso me deixou muito mal; não poderia deixar de fazer algo: fui conversar com a moça.

Embora cansado, tendo ido dormir às 6h de domingo, ido à Igreja pela manhã e cheio de coisas, amei uma criança que nem minha é. Não poderia deixar de lado um ser indefeso cair vaso sanitário abaixo por causa de um chá abortivo qualquer, vendo uma mãe nervosa e um pai aturdido, que optam mal porque optam por seus próprios umbigos.

Quero ser advogado. Quero lecionar, ganhar dinheiro, ser feliz, ter família, estudar, coisa e tal, mas um dos meus anseios mais intensos é estar ao lado de quem necessita de amparo. Minha curta vida me ensinou que não há mocinhos nem bandidos, mas apenas humanos, demasiadamente humanos. Pedi à provável genitora que não optasse por outra pessoa, assim como possivelmente fizeram com ela.

Queremos dormir em paz, mas não nos damos sossego. Pouco adianta buscar cobertores para se aquentar se não nos cobrirmos com ele. Podemos soltar pombos, mas a paz só se manifesta em um vôo livre e desimpedido. Só há vida

Não sei o que acontecerá hoje, segunda-feira. Sei, entretanto, que fiz minha parte. O Justo Juiz fará o que lhe aprouver; apenas deixei que a inaudível voz do zigoto falasse mais alto que os gritos do egocentrismo. Agi certo? Espero que sim.

Que Deus me ajude, e ajude essa provável mãe a achar seu norte. A balança pode pender aos mais fortes, mas é Ele que dá o equilíbrio. A Ele cabe o futuro, mas a mim cabe o presente. Que Ele me guarde até o dia em que eu O encontre face a face, mas que eu tenha força para guardar aqueles a que me estão próximos e que, de certa forma, são-me confiados o sustento e a vida.

Deus, dá-me forças; não por mim, pois de Ti dependo, mas para que eu defenda aos outros, os que dependem de alguém para que sejam ouvidos. Não quero mostrar que sou Teu filho; quero apenas sê-lo. Permita-me poder tornar real e aplicável a frase mais crua da Lei Fundamental: “todos são iguais”, mas não apenas perante a lei. Que eu seja assim, um igual. Por Teu Filho, que se fez igual por mim, Amém.

Um comentário:

Lúcia disse...

A gente tem que fazer o qeu acha certo. Pior do que ser condenado ou julgado pelos outros é ser refém de nossa própria consciência.
Abração
Lucinha